24 agosto 2006

Sucesso na feira



Dizem que quando uma mulher começa a fazer sucesso na feira, está na hora de entrar num regime. O que deve, pois, fazer um escritor quando passa a ser sucesso na feira?
Claro que não estou me referindo a nenhuma feira literária, que ainda estou longe de fazer sucesso nessas plagas. A feira que eu falo é perto daqui de casa, a feira suja e feia do Bairro dos Estados.
Cheguei uma manhã na barraca do Walter, de quem sou freguês antigo, para pegar meu sortimento semanal de frutas e verduras. Senti um certo estranhamento, alguma coisa havia mudado no modo como me tratavam. Fiquei meio desconfiado, pois conheço bem o espírito das feiras e o da barraca do Walter em particular.
O mistério foi revelado quando Mauro, o meu escolhedor de laranjas preferido, se abaixou no lado de dentro do balcão e veio à tona com um jornal na mão, perguntando se eu conhecia o sujeito da fotografia na capa do caderno. Lá estava eu, ilustrando uma matéria sobre o lançamento do meu romance, Memória do fogo.
Cheio de cerimônias, Mauro me contou que estava procurando umas folhas de papel para embrulhar umas macaxeiras quando deu de cara com minha cara estampada no jornal. Eu mesmo sou um fornecedor de jornal velho para os embrulhos da barraca. Coincidência ou não, havia desaparecido daqui de casa exatamente o jornal com a matéria que ele me mostrava. Foi muita sorte minha poder recuperá-lo.
Mas a coisa não tem sido fácil. Mauro me garantiu que quando lesse a matéria, me entregava o jornal. Só que já faz duas semanas do acontecido e o jornal ainda está com ele. Diz que ainda não terminou de ler. Enquanto isso, minha fama vai se alastrando em círculos concêntricos a partir da barraca do Walter. Tenho certeza de que eles estão me usando para fazer merchandising.

3 comentários:

Anônimo disse...

Beleza Ronaldo!

Waldir Pedrosa

geraldomaciel disse...

É. A fama é concêntrica e cheira a banana anã, melancia, cajá, sapoti;
e é bem real. A fama desse tipo de feira pode não ter grandes repercussões, mais rende cada texto! Mais ou menos como o sapato getúlio...

Um abraço

Barreto

Anônimo disse...

Veja pelo outro lado da coisa!
Ao menos sua figura não está a essa altura amarrotada por está em volvendo e
mesmo protegendo alguma fruta.
Bem, o que não seria de todo mal!!!!
Frutas, feira, Walter e o senhor em volta de tudo isso.
Acho que retornou de alguma forma ao início.

Suas letras são alimentos para o meu espírito!
Beijos literários! Malke Maurício