22 abril 2013

Boa vida



Fui convidado para apresentar “A menina De Noite” numa feira de livros para alunos do primeiro grau. Trabalho duro. Três apresentações, uma pela manhã e duas pela tarde.

Na primeira turma, dos mais novos, aberta a palavra para as perguntas, fui bombardeado com uma questão fulminante: quanto é cem mais cem? Logo eu, que sempre fui uma lástima com os números, não poderia arriscar qualquer palpite. Não sei, respondi. A gargalhada foi geral. 
 
Consegui me sair melhor com as perguntas mais prosaicas das turmas mais velhas sobre o meu processo criativo: “é muito difícil escrever um livro?” “Quanto tempo o senhor levou para escrever ‘A menina De Noite?”  “Por que ‘De Noite’ e não ‘Da noite’?” “De onde vem a sua inspiração?”

Uma menina que estava fantasiada de Emília perguntou se era eu que tinha escrito “O sítio do Pica-pau amarelo.” Deu vontade de mentir, mas achei melhor falar um pouco sobre o valor de Monteiro Lobato na literatura e a sua luta pelo petróleo brasileiro.

Depois de cada apresentação, teve a indefectível sessão de autógrafos. Ao todo, foram mais de cem assinaturas com uma pequena dedicatória em cadernos, agendas e folhas avulsas de papel arrancadas às pressas.

O melhor disso tudo é o clima de cumplicidade que as respostas sinceras e brincalhonas criam entre mim e este público que se entrega numa relação de confiança depois de entender que estou do lado deles. Já na saída, no corredor entre a biblioteca e o pátio, me vi cercado pelo carinho de um bando ruidoso de meninas e meninos que me desejavam uma boa tarde, um bom fim de semana. Até que um dos mais velhos me abraçou e disse: “uma boa vida para você, Ronaldo”. Não pude evitar as lágrimas. Pois com aquela frase simples, o garoto estava me desejando o que eu já vivia naquele momento. Pois não tem coisa melhor na vida do que viver cercado de carinho como recompensa pelo nosso trabalho.     

Foto de Ana Patrícia