30 dezembro 2009

Seconda chance




Se trovate a Gaza
un bambino in una mangiatoia,
circondato dai genitori,
tre magi
e alcuni animali,
per favore, proteggetelo.


Perché la mattanza degli innocenti
è già cominciata
e la strada per la fuga in Egitto
è chiusa.


Ronaldo Monte.
Traduzido por Rosella Pristera
http://bottega27.splinder.com/post/21906325



SEGUNDA CHANCE


Se for achado em Gaza
um menino em uma manjedoura,
rodeado pelos pais,
três magos
e alguns bichos,
por favor, protejam-no.


Pois a matança dos inocentes
já começou
e a rota de fuga para o Egito
está interditada.



(Ronaldo Monte. 16.01.2009)

21 dezembro 2009

O milagre possível


Pobre humanidade esta, que deposita suas esperanças no nascimento de uma criança que aconteceu, supostamente, há dois mil e nove anos. Pobre e contraditória humanidade, que deposita esperanças num evento que já aconteceu. Não há mais nada o que esperar. A não ser por um milagre. Mas se algum milagre tivesse de acontecer, não se deixaria esperar por mais de dois mil anos.
Se algum milagre tiver que acontecer, ele terá de ser feito pelas nossas próprias mãos. E não há mais tempo para esperar. A tarefa é urgente, para ontem. O planeta está exaurido. Os homens estão exaustos. O que era semelhante transforma-se no estranho que deve ser abatido.
Aos que ainda mantêm um mínimo de lucidez, resta insistir na construção de um mínimo fio de solidariedade. Coisa difícil, pois esta qualidade não é natural no ser humano. Ela tem de ser construída racionalmente. Mas é a única qualidade que pode nos salvar da barbárie. Solidariedade. Este é o nome do milagre.

15 dezembro 2009

A gênese de um buraco





Faz uns quinze dias que ele apareceu no cruzamento da esquina em que moro. Começou como quem não quer nada, uma pequena depressão no calçamento, próximo a um bueiro. Aos poucos, foi prosperando, ganhando direito a um arbusto anunciando sua presença. Agora já assume ares de adulto, servindo para depósito de entulho e quase inviabilizando o trânsito.

Não sei qual coligação é responsável pela obturação do buraco. Sei que, se alguma providência urgente não for tomada, ele tem um grande futuro pela frente. Uma madrugada dessas, em que fiquei escrevendo no terraço, tive minha concentração dispersa por um alvoroço na esquina, com direito a viatura da polícia. Soube depois, pelo vigilante da rua, que um rapaz tinha jogado um celular e uma trouxa de maconha no buraco.
O risco é ele aumentar muito de tamanho e alguma gangue instalar seu quartel general em suas profundezas. Aliás, pode nem ser tão ruim assim. Dependendo de uma política de boa vizinhança, talvez eu consiga dos novos vizinhos a segurança que nenhum coligação foi capaz de me dar até aqui.

13 dezembro 2009

As armas do jardineiro


Veio um jardineiro aqui em casa dar um jeito nas plantas para o fim de ano. Foi preciso podar alguns arbustos e o facão que ele usava revelou-se insuficiente. Ele lamentou não ter trazido outras ferramentas mais adequadas, mas teve medo de andar nas ruas carregando serras e grandes facões. A polícia poderia confundi-lo com um ladrão.
Cheguei a comentar com ele que os ladrões de hoje não usam mais esse tipo de armas. Qualquer dimenor carrega no mínimo um 38 na cintura. Mas parei a conversa por aí. Não ia adiantar muito qualquer reflexão que fizesse a respeito do nível de desamparo a que todos nós estamos sujeitos. Uns mais, outros menos, a depender das posições nas classes sociais.
Classes sociais, sim, pois a luta de classes só foi abolida no vocabulário dos neoliberais. Se eu sair nas ruas com minhas ferramentas de trabalho, a saber, um note-book, um celular e dois ou três livros, dificilmente um policial virá me abordar. No máximo, serei confundido com um malfeitor de colarinho branco, o que só fará aumentar o respeito do policial pela minha figura.
Bem faz o jardineiro em temer expor suas armas no meio da rua. Pois ele trabalha na contracorrente do esforço dos governos e grandes corporações em transformar o planeta num deserto infértil. Ele trabalha com zelo para a beleza do mundo. É isto que o torna perigoso.

06 dezembro 2009

Os sinos da depressão



Todo ano é a mesma coisa. Começa dezembro, os sinos bimbalham e eu me deprimo. É automático, inevitável. Vocês sabem muito bem de que sinos estou falando. Não é o sino da torre da velha igreja que todos trazemos da infância. Nem os carrilhões das grandes catedrais que conhecemos de passagem ou pelos filmes. Os sinos que me deprimem bimbalham nas musiquinhas cabulosas que tocam nas lojas, nos carros de propaganda e nos anúncios de televisão. Eles querem reproduzir em nossa memória uma lembrança que não temos. Querem nos lembrar os guizos de um trenó que desliza sobre a neve puxado por renas carregando um bom velhinho com um saco enorme cheio de presentes. E talvez seja isto o que me deprime.


Vejam que não estou falando de nostalgia, pois esta sempre nos lembra alguma coisa que perdemos e não podemos mais recuperar. Os sinos que bimbalham em dezembro não me lembram nada que alguma vez tenha perdido. Eu nunca vi um trenó, não conheço uma rena e não me lembro de nenhum velhinho gordo e simpático que me tenha dado um presente.
O que perdi, e disto sinto falta, foram os dias de correria que antecediam a noite de festa, no natal e no ano novo. O que perdi foi as mãos fortes do meu pai abrindo a massa do pastel com uma garrafa cheia d’água. Perdi também o cheiro dos pastéis assando no forno e depois se derretendo na boca, misturando o doce do açúcar com o gosto salgado da azeitona. Perdi também o presente achado debaixo da cama na manhã seguinte. Perdi o pai, a mãe as tias e uma parte dos irmãos que construíam comigo essas festas. Isto me faz nostálgico. Mas não me deprime.


É por isso que faço tudo para me recolher em casa assim que começa dezembro. Não quero ouvir o bimbalhar dos sinos. Não quero fazer parte da correria insana que leva as pessoas de um canto para outro em busca de uma coisa que não vão encontrar. Nem dentro delas mesmas. Pois esta coisa chata que as simones e os robertos cantam, que até o pobre do John Lennon é obrigado a cantar, não existe em canto nenhum de nossa memória. Elas existem fora de nós, fabricadas por uma indústria de ilusões e bugigangas. Não me perguntem, pois, por quem os sinos bimbalham. Uma coisa eu garanto: não é por mim.