14 julho 2015

Bilhete de amor



Acordo às oito e o lado esquerdo da cama está vazio. Levanto para os ritos matinais e encontro, entre o copo e a garrafa d'água sobre a prateleira de granito, um recado prosaico: "fui comprar banana".

Certos gestos, por mais que possam parecer banais, revelam intenções que só os seus destinatários sabem decifrar. Neste caso, o que a autora do bilhete quis me dizer foi que acordou preocupada por eu não poder comer a banana obrigatória para amenizar as minhas cãibras. Em segundo lugar, me diz que fez todo o silêncio possível para me deixar dormir até o limite do meu sono. Mais ainda, quis evitar que eu me preocupasse com a sua ausência inusitada e saísse apressado procurando por ela, sonolento, pela casa.

Em suma, o que encontrei sobre a prateleira era um bilhete revelador do mais profundo carinho e respeito pelo sono da pessoa amada. Foi assim mesmo que eu me senti. Amado e coberto de carinho, ansioso para vê-la entrar pelo portão com um prosaico cacho de bananas para me livrar das cãibras e me alimentar de amor.