29 dezembro 2016







Para algumas tribos indígenas brasileiras, anhanga pode ser entendido como alma velha, as almas dos mortos que vagam pelo mundo. Para alguns ramos da Jurema, anhanga nomeia tudo que é velho, inútil, tudo o que não presta e deve ser jogado no lixo.
Em outra acepção, Anhangá é o protetor dos animais da floresta, castigando os caçadores que matam por prazer, para além da satisfação das suas necessidades. Sua fúria é extrema quando alguém mata um filhote que mama ou uma fêmea grávida ou que amamenta. Assim aproxima-se de Oxossi, orixá protetor das caças, ele mesmo caçador, que também castiga os que matam a caça por prazer.
É bom lembrar que o ano que começa é regido por Oxossi e sua mulher Oxum, a deusa das águas doces e das cachoeiras, a bela provedora do amor e da fortuna.
Vamos deixar nosso pensamento brincar com estes mitos e imaginar que o ano novo nos livre de tudo o que for anhanga, tudo o que for velho e inútil, tudo o que vaga sem ter mais lugar nas nossas vidas, no nosso mundo. Coisas, pessoas, ideias, tudo o que for anhanga, deve ser jogado fora. Isso inclui os trastes que entulham nossas casas, os políticos que infernam nossas vidas, os fundamentalismos que destroem nossos esforços de fraternidade.
Ao mesmo tempo, vamos esperar que os dois protetores da caça, Anhangá e Oxossi castiguem todos aqueles que acumulam além de suas necessidades, os que roubam, que saqueiam, que corrompem e se deixam corromper.

Por fim, deixemos que Oxum, essa força agregadora, inspire o amor entre nós, para irmos além do nosso egoismo, em direção ao próximo, não importa a distância em que se encontre. 









26 dezembro 2016

Os teimosos da esperança





É tempo de esperança. Por mais que queiram que nos desesperemos, sejamos teimosos, tenhamos esperança. Por mais que queiram que cada um  salve o próprio umbigo, sejamos teimosos, sejamos solidários. Esta qualidade de que tanto se fala, a solidariedade, é a mais difícil de ser exercida, pela simples razão de não ser natural do homem. Ela tem de ser construída racionalmente. É muito mais fácil dividir o mundo em os nossos e os deles do que cuidar dos próximos e dos distantes indistintamente.    


Vivemos uma epidemia fundamentalista. E  todo fundamentalista quer  voltar a uma suposta  época de ouro, em que o mundo obedecia a uma lógica perfeita de distribuição de poder, onde todos viviam em perfeita harmonia, desde que obedecidas regras rígidas de subordinação e privilégios entre castas, etnias,  gêneros e gerações. É só olhar para o mundo para ver até onde nos tem levado os vários tipos de fundamentalismo em vigor.

Pode soar estranho eu ficar aqui falando de esperança depois de um ano em tudo avesso a qualquer pretensão de otimismo. É que o tempo me ensinou a pensar um pouco mais além da minha ínfima existência. Trump não é para sempre, Bashar al Assad não é eterno, o Estado Islâmico por certo terá um fim, Putin um dia baterá as botas.  Os bandidos tupiniquins também terão o destino que merecem. Nós, os teimosos da esperança, somos eternos.  Temos todo o tempo do mundo para construirmos um mundo solidário.   

01 dezembro 2016

Sem remédio



Os serviços de entrega de medicamentos excepcionais da Paraíba estão desabastecidos. Isto significa que centenas de pessoas simplesmente correm o risco de morrer, pois esses medicamentos, em sua maioria não são encontrados no mercado. E os que são, custam os olhos da cara. Eu mesmo dependo de um injetável que custa noventa reais cada unidade. A três por semana, chegamos à soma de um mil e oitenta reais por mês. Como é que fica quem ganha salário mínimo?  
Chego à conclusão de que não é preciso esperar pela aprovação da PEC do teto orçamentário para assistir ao desmonte dos programas de proteção à saúde. Foi só o Temer se sentar na cadeira da Dilma para começar a esculhambação. Falo isto do alto da minha patente de paciente renal crônico que sente na pele (nos rins) os efeitos desse descaso. Desde julho que não consigo retirar minha quota de Renagel, um remédio importado crucial para o controle do cálcio no organismo. Estou me virando com um medicamento que só parcialmente substitui o original, me colocando em risco de descalcificação.  
O que dói na alma, entretanto, é a expressão de desamparo das pessoas que encontro no guichê do dispensário. São pobres, em sua maioria. Uma parte deles se desloca com dificuldade, maltratada pelo transporte público de má qualidade. Alguns moram em outras cidades, acordando de madrugada para se submeter ao calvário dos desvalidos.    
De minha parte, estou tentando desvendar o labirinto burocrático que leve aos responsáveis por este crime contra a população. Mas é enorme a dificuldade para obter um simples número de telefone. Preciso de ajuda.