13 dezembro 2009

As armas do jardineiro


Veio um jardineiro aqui em casa dar um jeito nas plantas para o fim de ano. Foi preciso podar alguns arbustos e o facão que ele usava revelou-se insuficiente. Ele lamentou não ter trazido outras ferramentas mais adequadas, mas teve medo de andar nas ruas carregando serras e grandes facões. A polícia poderia confundi-lo com um ladrão.
Cheguei a comentar com ele que os ladrões de hoje não usam mais esse tipo de armas. Qualquer dimenor carrega no mínimo um 38 na cintura. Mas parei a conversa por aí. Não ia adiantar muito qualquer reflexão que fizesse a respeito do nível de desamparo a que todos nós estamos sujeitos. Uns mais, outros menos, a depender das posições nas classes sociais.
Classes sociais, sim, pois a luta de classes só foi abolida no vocabulário dos neoliberais. Se eu sair nas ruas com minhas ferramentas de trabalho, a saber, um note-book, um celular e dois ou três livros, dificilmente um policial virá me abordar. No máximo, serei confundido com um malfeitor de colarinho branco, o que só fará aumentar o respeito do policial pela minha figura.
Bem faz o jardineiro em temer expor suas armas no meio da rua. Pois ele trabalha na contracorrente do esforço dos governos e grandes corporações em transformar o planeta num deserto infértil. Ele trabalha com zelo para a beleza do mundo. É isto que o torna perigoso.

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