01 agosto 2006

Riscos do amor

O poeta é um fingidor, etc. etc. O poeta Francisco Dantas finge amar a quem deveras ama e para tanto escreveu versos e fez rimas, tornou-se humilde e contou mentiras.
Dante teve sua Beatriz. Dantas tem a sua Elisalva. E por ela desceu aos infernos, purgou no andar do meio e por certo subiu aos céus, ao céu efêmero dos poetas.
Dantas chamou de Instantes poéticos o seu livro de poemas. Um título modesto, posto por quem quer mostrar seus versos aos amigos, exibindo-os primeiro em seu blog. È um livro escrito entre a sala e o quarto do poeta, “uma solução caseira”, como disse Sérgio Castro Pinto. Tão caseira, que a própria musa se dá o direito de interferir na obra e responder com “outra serenata” à “serenata” do autor.
Obcecado pelo seu objeto de desejo, Dantas destila sua paixão por todos os poros dos seus poemas. E mesmo quando corajosamente expõe seu “ato solitário”, lá está o corpo da amada alimentando suas fantasias.
Amar, todos sabem, é muito arriscado. Para os poetas, então, é um risco de aniquilamento. O poeta que ama é um carente de palavras que traduzam com justeza o tamanho de suas paixões. Daí o risco do exagero eloqüente dos verbos, da fartura dos adjetivos. Dantas correu o duplo risco de amar e de escrever poemas de amor.
Em versos quase sempre despojados, obrigando-se às vezes a um excesso de simplicidade, Dantas nos mostra a complexidade do seu amor, pelas diversas vias que usa para dar conta dos meandros de sua devoção.
Mas não se engane o leitor com esta “simplez”. Dantas conhece o riscado. É doutor em Letras e autor de A frase caótica, livro indispensável para quem quiser saber mais sobre o estilo dos escritores contemporâneos. Sabe, portanto, os riscos que corre ao amar e ao expor o seu amor em seus poemas.

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