01 agosto 2006

Memória do fogo


Cinco homens e uma mulher se reúnem em torno da fogueira. O mesmo gesto repetido há milênios pela humanidade. Ao fogo entregamos nossas indagações e perplexidades. Das chamas partilhadas saíram nossas crenças e mitos, nossa história e nosso conhecimento.
Para os sete que ali se reúnem, no entanto, não existe grandiosidade. Nem esperança. São jovens, mas não conseguiram atravessar a ponte que separa a infância da vida adulta.
Precocemente fracassados, perdidos em algum ponto do Nordeste brasileiro, perderam-se também do fio que conduz a vida. Em volta do fogo, partilham apenas a cachaça, a água que queima.
É para a miséria humana que se dirige a atenção de Ronaldo Monte em seu romance de estréia. Para as dores que atravessam o tempo e permanecem inexplicáveis. Para o sofrimento exaustivamente investigado por filósofos, poetas, cientistas, e jamais compreendido.
A prosa de Ronaldo Monte mistura a psicanálise e o catimbó, a filosofia e a tradição oral, o erudito e o popular, numa surpreendente teia de relações. Na Memória do fogo, tudo arde - a começar pelo olhar do autor, que constrói amorosamente suas personagens, como se todos fizessem parte de uma mesma irmandade. E é nela que nos envolvemos ao iniciar a leitura. Como que hipnotizados pela luminosidade de uma fogueira primitiva, como que também embriagados pelo poder da palavra do romancista.

Rosa Amanda Strausz

Um comentário:

Anônimo disse...

Amado Rona, às vezes me pergunto se você tem o toque de Midas.

Como sempre está tudo perfeito. Parabéns.

abraços