29 agosto 2006

Mascates da noite



Gosta de poesia? A pergunta toma de assalto a quem passa na rua ou conversa na mesa do bar. Posso apresentar o meu trabalho? É o passo seguinte se você ficar calado, surpreso com a sem-cerimônia da intervenção. Aí o garoto ou a garota põe o livro em suas mãos, como se não restasse nada mais para você fazer do que comprá-lo.
Geralmente é um livro pequeno, artesanal, com uma capa horrível, em caracteres quase ilegíveis. Alguns poucos têm acabamento mais esmerado, pouquíssimos têm até fotografias. Mas não é a aparência que importa. Nem mesmo importa se os poemas são bons ou não. O importante é que sejam livros. E livros de poesia.
Não entendo as pessoas que alardeiam que a poesia está desaparecendo. Muito menos os que reclamam da falta de mercado para os poetas. É só sair à noite para ver que tudo isso é preconceito ou má vontade. Verá poetas aos montes que fazem pilhas de poemas e publicam livros, muitos livros.
As noites do Rio, de Parati, de Olinda e do Recife, as noites de qualquer cidade deste país estão cheias desses mascates que insistem em passar suas mercadorias poéticas a um preço em conta. Vendem nessas noites o produto de outras noites que atravessaram insones em busca da palavra que achem mais precisa no verso que achem mais enxuto na esperança do poema mais perfeito que na maior parte das vezes falta ao encontro marcado antes dos primeiros vermelhos do dia.
Gosta de poesia? Então perca o apego àquela nota de dez reais e compre o livro do poeta. Faça um pouco mais. Leia o livro assim que chegar em casa. Você pode ter uma surpresa ao ver que valeu a pena ter dado ouvido e crédito a um desses muitos mascates noturnos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rona, muito bom o incentivo, mas não gostei do termo "mercadoria poética"... não seria arte, ainda que boa ou má?? Não entremos nós também na lógica do mercado. Beijos