22 novembro 2006

Dois poemas


Herança

Cuido com carinho
das palavras que herdei.
Das antigas e das novas.

As antigas,
gordas de sentido,
deixo-as descansar em minhas mãos
antes de lançá-las
de volta ao carrossel dos signos.
Relíquias
impregnadas de hálitos ancestrais.

As novas,
verdes de memória,
guardo no berço das mãos
até que estejam prontas
para a ciranda dos verbos.
Pontos luminosos
no discurso opaco do cotidiano.

Novas antigas palavras.
herança e testamento
de minha breve passagem pelo mundo.

05.12.04


Ofício paterno

Ouvir
o grito do teu corpo
no escuro.

Salvar
teu corpo dessa morte
prematura.

Colher
teu corpo desmembrado
do naufrágio.

Lançar
teu corpo derrelito
em praia firme.

Reter
o todo do teu corpo
nas retinas.

Rever-me no teu corpo.
Deixar-te com teu corpo
longe de mim.

12.11.04

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei de reler a 1a, mas não gostei de reler a 2a... me dói, e não sei por que.