Tem alguma coisa antiga que me liga a Cabedelo. Não é à toa que me mudei para cá. Quando vivia embarcado na costeira, meu pai montou sua casa em Cabedelo. E contam que quando ele vinha no trem de João Pessoa, jogava os pacotes das compras para minhas tias que esperavam na beira da linha. Um pouco de minha pré-história, portanto, foi vivida aqui.
Em Cabedelo reencontro alguns dos cheiros de minha infância. O sargaço do mar, a confusão dos perfumes e catingas da feira, o azedo do lodo seco nos esgotos a céu aberto.
Aqui reencontro o formigueiro matinal de trabalhadores e estudantes buscando sem pressa seus destinos, dividindo o sol com os cachaceiros que vararam a noite nas esquinas.
Aqui também fica mais fácil visualizar o conjunto do descaso do poder público pelo bem-estar dos cidadãos. A feira fede desordenadamente, enquanto um elefante branco que seria o novo mercado se arrasta há dois mandatos do mesmo prefeito. O lixo se acumula nas esquinas e as ruas calçadas sem drenagem ou saneamento se transformam em focos de mosquitos à mais rápida chuva de verão.
Sei que algumas pessoas devem me achar definitivamente desequilibrado em trocar o conforto pequeno-burguês do Bairro dos Estados por uma vizinhança barulhenta e mal cuidada. Mas é esta mesma vizinhança que ainda conversa nas calçadas, que varre a porta das casas de manhã bem cedo, que dá bom-dia quando passa por você, que baixa o som quando você reclama.
Talvez esta seja a última mudança na minha vida. Talvez seja a última vez que faço um puxadinho numa casa. Por isso não quero que seja apenas uma mudança de uma casa para outra. Talvez o que eu queira mesmo seja mudar o rumo da minha história, trazendo-a mais pra perto da história dos meus pais.
casanaestrada2.blogspot.com
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