“Só tenho um número, só sou um número”. Foi o que Eliane
disse à imprensa, mostrando um papel com a senha que recebeu depois que foi
expulsa de sua casa na comunidade de Pinheirinho, na cidade paulista de São José
dos Campos. Ela estava há quatro horas numa fila sem conseguir ser atendida. Tudo
que queria era recuperar seus pertences deixados no barraco em que vivia com
mais seis pessoas.
Eliane é só um número
dentre muitos que marcam esta operação de guerra em que se transformou a
desocupação de Pinheirinho. Numa área de mais de um milhão de metros quadrados
vivia uma população estimada entre seis a nove mil pessoas. Três vezes maior
que o Estado do Vaticano, a área estava avaliada em 180 milhões de reais.
Se quisermos mais números, saberemos que dois
mil policiais militares com o auxílio da guarda municipal foram usados para
desalojar os moradores. O reforço veio com mais de 220 viaturas, dois helicópteros
além de carros blindados. Além disso, 40 cães e 100 cavalos também foram usados
para intimidar e agredir os moradores.
Podemos
pensar que não há nada que justifique tamanho aparato e os atos de violência
indiscriminada que o Estado usou contra pessoas pobres, abandonadas à própria
sorte pelo poder público. A não ser que
suspeitemos de uma ação integrada entre o poder executivo de São Paulo e alguns
membros do judiciário em benefício de algum poderoso muito bem articulado nos
meios políticos estadual de federal.
Quando sabemos que a área de Pinheirinhos
pertencia à massa falida de uma empresa de propriedade de Naji Nahas, um
bandido que já foi preso por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, aí as
coisas se esclarecem. Aí fica difícil manter a esperança de que Eliane deixe de
ser apenas um número e que um dia venha a ser tratada como a Cidadã Eliane
Borges Figueira.
Um comentário:
dá vontade de pular da janela deste mundo... se é que há janela.
Quando nosso povo vai parar de ser tão dócil?
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