Uma leitora desta coluna me pede, humildemente, que fale a respeito do baixo salário que ganha um policial militar na Paraíba. Ela é filha de um militar reformado que ficou doente quando soube do “acréscimo de 03% que o Governo lhe deu”.
Com toda sinceridade, não sei quanto ganha um PM, nem estou a par do percentual que o Governo concedeu aos policiais reformados. O que me chama a atenção é o profundo nível de desespero da leitora, que usa talvez como último recurso um pedido de ajuda a um cronista sem qualquer poder de influência nos atos do Governo.
Não sei a quantas instâncias a leitora recorreu. Imagino quantas portas lhe foram fechadas, quantas horas de espera foram desperdiçadas nos corredores inóspitos das repartições públicas. Suponho quantas ofensas teve que engolir, quanto desdém teve que suportar. Imagino o tamanho do seu desamparo para ter que decidir pedir a minha ajuda.
Não sei, minha cara leitora, o que este cronista pode fazer por você e pelo seu pai. Tudo o que tenho para oferecer é a minha solidariedade. Pois sou filho de um funcionário público que morreu sem receber uma migalha do que o Governo Federal lhe devia. Também fui vítima da humilhação nos corredores da burocracia. Sofri com minha mãe a espera dos “atrasados do meu pai” para comprar um sapato novo no Natal, uma roupa melhor nos aniversários. E os atrasados nunca foram pagos.
Conheço o gosto ruim da desesperança dos herdeiros da humilhação e do descaso do poder público. Sei também que esta crônica não terá poder nenhum para mudar a situação do pai da minha leitora ou de qualquer outro injustiçado. Uma crônica pode muito pouco. Mas espero que possa deixar claro para a minha leitora que ela não está sozinha no mundo. É só procurar outros injustiçados para que, juntos e organizados, possam exigir o direito de viver com dignidade.
Um comentário:
Que tristeza este país!
Quando o povo vai aprender a parar de pedir, como filhos, o que não é favor e sim direito e agir para eleger profissionais e não pais e mães?
Sua resposta foi ótima.
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