Uma mãe abandona um filho na
porta de uma igreja porque já não tem como alimentar nem a si nem à criança. A
cena se multiplica em frente às ONGs e aos órgãos governamentais. Não estou
falando de nenhum país subdesenvolvido nem atingido por qualquer desastre
natural. É na Grécia, país membro da comunidade européia, onde nasceu a
civilização ocidental, que as mães estão tomando esta decisão extrema em favor
da sobrevivência de seus filhos.
De todas as misérias que a crise
européia vem causando, nada se compara a esta tragédia que se abate como uma
epidemia sobre as famílias gregas. Uma sucessão de governos perdulários torrou
o dinheiro vindo da comunidade européia para ser aplicado em infra-estrutura e
melhoria de serviços. Veio a crise financeira e o desequilíbrio das contas
levou o país à bancarrota. Daí em diante, todo o dinheiro que entrou foi para
livrar o prejuízo dos bancos. O governo que se virasse para cumprir as
exigências dos financiadores. Era preciso cortar fundo na própria carne,
diziam. Mas o que sangrou, como sempre, foi a carne do povo.
Uma das saídas apontadas para
minorar o efeito da crise grega seria o país vender uma parte de suas ilhas,
aquelas pérolas povoadas pelos mitos fundadores da cultura ocidental. Podemos
supor que isto seria a vergonha suprema para o povo grego. Mas uma vergonha
maior está sendo imposta pelos senhores do dinheiro aos indivíduos que vagam
pelas ruas destituídos dos seus bens, dos seus empregos. E desta população
humilhada, destaca-se o drama dessas mulheres levadas ao sacrifício extremo de
abandonar seus filhos para livrá-los da morte pela fome.
Nenhum deus pode ser apontado
como autor desta tragédia. Ela é fruto da maldade dos homens. Dos poderosos de
sempre, alheios ao sofrimento que causam a seus semelhantes em qualquer lugar do
mundo.
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