16 julho 2008

Vesga


Encomendado por Betomenezes

Antes disso - ela falou, interrompendo o trabalho ávido dos dedos dele no primeiro botão da blusa -, preciso lhe contar uma coisa: eu sou vesga. Ele ficou parado olhando para os olhos dela que não davam o menor sinal de desencontro.
Não é dos olhos que estou falando. Virou-se de costas e ela mesma tirou a blusa. Voltou-se girando colada ao corpo dele, entregando a boca, entretendo os olhos.
O corpo do homem exausto na cama não notou quando ela foi ao banheiro. Só a viu voltar, enrolada no roupão. Ele quis espionar pelas frestas, mas tudo o que conseguiu foi um beijo em cada olho.
Ele tomava um café forte na mesa da cozinha quando ela veio lá de dentro já pronta para sair. Curvou-se para o beijo de despedida com a mão protegendo o decote.
Ele a viu se afastar, ouviu seus passos ecoando pela sala e sentiu uma leve tristeza quando a porta bateu. Passou o resto do dia todo assim, os olhos pulando de uma coisa para outra, procurando algo que ele sabia que não estava ali.

Clube do Conto, 19.07.2008

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