11 julho 2008

O presente



Era véspera do meu aniversário. Era também dia de oficina de leitura no Centro Comunitário de Mandacaru. Quando cheguei, havia uns panos coloridos no chão e, sobre eles, alguns livros meus, além de outros escritos que o grupo conhecia. Durante duas horas, ouvi de vozes amigas os poemas, crônicas e contos que escrevi ao longo da minha vida. No terraço onde nos encontramos, havia um painel com um retrato meu feito a lápis por um dos componentes. No final, todos os presentes escreveram mensagens de carinho para mim. Não podia ganhar presente melhor.
O melhor presente, porém, não era a simples devolução aos meus ouvidos das palavras que um dia de mim haviam saído. O verdadeiro presente era assistir um punhado de jovens repartir o poder e a beleza das palavras, superando todas as resistências de um meio hostil e degradante.
O melhor presente é saber que existem muitos grupos iguais ao nosso pelo País afora. O verdadeiro presente é constatar que a palavra ainda não foi destituída do seu poder em resgatar a dignidade do ser humano.
Somos seres de fala. A palavra é nossa carne. Temos sede de invenção e beleza. E a prova disto é o trabalho dos meninos e meninas de Mandacaru. Eles alimentam minha crença em um mundo mais rico, em que cada um tenha direito a dizer sua palavra e repartir sua beleza com os seus semelhantes.

Um comentário:

VaneideDelmiro disse...

Sempre venho aqui. Mas hoje vim especialmente para lhe desejar um Feliz Aniversário e muitas palavras em sua longa vida.
Fiquei curiosa sobre o grupo de leitura com os meninos e meninas de Mandacaru. Gostaria de poder conversar com você a respeito.
Um grande abraço da ex-aluna e sempre admiradora.