20 junho 2008

Migrantes

Somos todos migrantes. Para ter o direito à vida, somos expulsos de um lugar que nos guardava como um paraíso. E o nosso primeiro trabalho é construir um simulacro desse espaço dentro de nós. Construímos um eu. E jogamos para fora dele tudo o que ousar perturbar a paz reencontrada. E assim criamos um outro diferente do que pensamos ser.
Somos todos migrantes. Fugimos da solidão procurando a união com os mais próximos, os mais parecidos a nós mesmos. Criamos um grupo e jogamos para fora dele tudo aquilo que ameaçar esta frágil comunhão. E assim criamos nossos inimigos. Pode ser os vizinhos, os moradores de outra cidade, outro estado, outro país. O de outra cor, outro credo, outra ou nenhuma posse.
Somos todos migrantes. Migramos da nossa humanidade e prendemos, humilhamos e devolvemos ao horror aqueles que nos procuram em busca de um pouco de paz e trabalho. Se antes fazíamos isto às escondidas, agora criamos leis que nos permitem o mal sem culpa.
Ainda somos migrantes. Nosso desejo nos faz migrar para um lugar onde todos poderemos nos reconhecer como semelhantes. Onde todas as diversidades serão acolhidas, onde a diferença será o nosso traço de união. O outro, o diferente, alegrará com luz e cor o cinza da nossa mesmice. Este lugar ainda está longe. Mas é para lá que migramos.

Imagem recolhida em www.radio.usp.br

Um comentário:

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Belo blog, adorei o texto.
marthacorreaonline.blogspot.com