Esta
é uma história de amigos e do que se pode esperar deles. Eu e Barreto estávamos
editando o primeiro livro de poemas de Waldir. Para quem não sabe, Barreto era
o nome de guerra de Geraldo Maciel. Eu disse era porque ambos, Barreto e Geraldo
Maciel, cismaram de sumir de nossas vistas inesperadamente. Waldir continua
sendo o competente Dr. Waldir
Pedrosa Amorim.
Estávamos
os três no escritório da casa de Barreto dando os últimos retoques na capa do
livro de Waldir. As nossas mulheres certamente falavam mal da gente lá pra
dentro e um uísque honesto cuidava de manter o tom fraterno da conversa.
Fraterno até demais, pois os dois gastaram um bom tempo louvando minhas
qualidades, que eu era generoso, disponível, um bom escritor e outras coisas do
gênero. Mesmo que não concordasse plenamente com alguns dos elogios, sorria num
misto de satisfação e falsa modéstia.
Aconteceu
que o uísque aumentou o calor do escritório (o condicionador de ar estava
quebrado) e resolvemos continuar a conversa no terraço. Aí não foi só o lugar
da conversa que mudou. Mudou radicalmente a opinião dos dois sobre mim. De
repente eu me vi classificado de irônico, gozador, mal humorado e outros
epítetos do gênero. Nem o famoso Dr. Jekyll se transformava tão rapidamente no
monstruoso Mr. Hyde.
Quando
vi que o repertório dos meus atributos negativos estava superando a lista dos
elogios, resolvi interromper a fuzilaria sugerindo que voltássemos ao
escritório. Apesar do calor, lá dentro eu era um sujeito bem melhor do que aquele
do terraço.
Claro
que os dois não concordaram e eu só fui salvo da fogueira inquisitória porque
vieram avisar que a água do macarrão estava fervendo e cabia a Barreto, famoso
pelos seus dotes culinários, calcular o tempo do macarrão ao dente.
Todos
à mesa, aberto o vinho, brindamos ao nosso encontro fraterno. E eu bebi e comi
como um frade, feliz com o que ouvi a meu respeito na primeira parte da
conversa.
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