Nesta manhã luminosa, somos dois seres despidos de qualquer gravidade. Nossos sentidos e nossa razão estão alheios a qualquer coisa ou acontecimento que exceda os limites deste invólucro de ar, luz e mar. Somos por um instante o casal primordial, anterior a todo mal, todo pecado. E bem melhor seria se assumíssemos a condição dos bichos, imersos na manhã sem a consciência da manhã. Como parte dela, apenas.
Mas somos humanos, meu amor. E sabemos o destino das manhãs. Mas não tentemos prever o destino desta manhã. Deixemos por enquanto que ela nos leve até onde nossos pés possam caminhar. Até onde nossos olhos possam se deixar inundar da sua beleza. Até onde todos os nossos sentidos se espantem com a eterna novidade dos dias que começam.
Foram muitas as manhãs que caminhamos. E muitas delas, em muitos e diferentes lugares, se ofereceram assim ao nosso espanto. E por sermos íntimos das manhãs, sentimos que esta pode muito bem ser vivida como o resumo de todas as manhãs que amanhecemos juntos.
Foto: Malke Maurício
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