Mas se já o estamos vendo caminhar é porque, de uma forma ou de outra, tal decisão já foi tomada. Precisamos agora acompanhá-lo mais de perto, pois a qualquer instante terá de tomar uma das mais difíceis decisões de sua vida: girar o corpo e fazer o caminho de volta. Quem caminha só, sabe o quanto é difícil decidir o momento e o lugar dessa meia-volta. Isto porque não há nenhuma convenção, nenhum acordo, nenhum condicionante exterior à decisão. Neste momento o homem está só e inseguro. O seu olhar para os circundantes é de puro desamparo.
Chamo agora a atenção para a desenvoltura com que os homens públicos tomam suas decisões. Vamos exterminar os judeus. Vamos invadir o Iraque. Vamos confiscar a poupança dessa cambada. Vamos elevar a taxa de juros. Vamos fazer caixa dois e mentir para esses otários nos elegerem novamente. Diferentemente do nosso caminhante da praia, o homem público nunca está só. Há sempre um grupo interessado em se locupletar com a sua decisão. Outra diferença é que suas decisões nunca o implicam pessoalmente. Ele não é judeu, não vive no Iraque, não é burro para ter poupança em banco nacional, há sempre um jeito de se ganhar alguma coisa com a inflação e, se não for reeleito, haverá sempre um lugar para ele e seus afilhados em alguma estatal.
Só e entregue à angústia de sua decisão, o homem da praia tem um privilégio que nenhum homem público jamais desfrutará. Pelo menos ali e então, ele prova a liberdade de decidir sobre o seu próprio destino.
Um comentário:
Vi esse seu texto no Contraponto.
:)
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