Existe algo no ar que não está nos deixando sentir muito bem. Comente com qualquer pessoa ao seu lado, seguramente ela também está sentindo o incômodo. Ninguém está dormindo direito, o tempo não está dando para nada, o resultado é pouco para o muito que se gasta de energia. Há um palpável excesso de mal-estar pairando em nossa volta.
O mal-estar, a angústia, são companheiros inseparáveis em nossa permanência no mundo. E se os suportamos é porque há sempre dentro de nós um projeto, uma esperança de que um dia essa coisa ruim vai passar. É uma ilusão necessária para que permaneçamos vivos. Os que perdem suas esperanças, os desesperados, fazem a opção extrema de desistir do mundo. Matam-se.
Até um certo tempo não era muito difícil ter um projeto de vida. A gente nascia já com um percurso esboçado pela família, pela geografia e pela classe social. Podíamos pensar em seguir a profissão dos nossos pais, ou entrar para o seminário, o convento ou o exército, se quiséssemos dar uma turbinada no projeto. Os mais abastados não precisavam mudar nada. Bastava seguir o curso tranqüilo do macro-projeto familiar.
De uns tempos pra cá, a maioria das profissões dos nossos pais desapareceu. Mais do que isso, desapareceram os postos de trabalho. Com isto, desapareceram muitos projetos de vida. O mundo de hoje, simplesmente, não dá para todos. A maior categoria de excluídos, hoje, é a dos sem-projeto. Sem esperança, portanto.
Antes, havia um jogo de cartas marcadas, em que se sabia de antemão quem ia ganhar ou perder. Hoje, ficou patente, com o recente desmantelo global, que nem o croupier nem o dono do cassino sabem como o jogo vai terminar.
O que fazer, então, frente ao caos e a incerteza? Só encontro uma resposta: manter a esperança, esta teimosia inata que nos mantém vivos. E junto a ela, construir uma coisa que não faz parte da natureza humana: a solidariedade. Você pode até discordar, mas a solidariedade não é uma qualidade inata. Inato é o nosso apego ao que nos é mais próximo, mais semelhante. A solidariedade exige o cuidado com o distante, o diferente, o estrangeiro. E a nossa tendência natural de humanos é nos fecharmos em nossa etnia, nossa família, nossa classe social. Em nosso mínimo eu.
Quanto mais nos excluirmos mutuamente, mais nos sentiremos sós e desesperançados. Pensemos nisto quando olharmos alguém à nossa frente com distância, indiferença e estranheza. A ponte que construirmos em direção a esse outro é a única saída para o nosso mal-estar no mundo.
Foto: Ana Patrícia Almeida - http://www.flickr.com/photos/anap/page7/
2 comentários:
Ronaldo,
Esse texto está irretocável! A sensação de bem-estar que resulta da sua leitura, é a resposta que damos quando somos tocados... Vamos construir mais pontes!
brilhante texto!
Caro Ronaldo, acredito que temos raizes da mesma familia monte, no nordeste. Sou de João Pessoa mas meu avô é de Alagoas, e atualmente moro em Amsterdam. Gostaria de poder conversar contigo e ver se temos antepassados em comum, há algum tempo busco por isso para montar árvore genealógica. Quando vi teu nome no Correio da Paraiba, logo vim ler e me deparei com teus ótimos textos, muito bons mesmo.
Um abraço e muito sucesso.
meu email é: jorgemonte83@hotmail.com
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