Vinha da praia com Glória, perto da hora do almoço. Cruzamos com três meninas que voltavam da escola. Saltitavam em seus dez, onze anos e tagarelavam. O ouvido apurado recolheu de uma delas: claro que faço regime. Não quero ficar gorda como você. Deixamos o trio se afastar um pouco e nos viramos para conferir. Estavam todas no limite da magreza pré-adolescente.
Já de tarde, Glória volta da rua com um caderno promocional de uma loja de roupas. Fiquei escandalizado com a escassez de carne das modelos. E não é somente a ossada à flor da pele que me impressiona. A maquiagem, o olhar e a postura das moças, ajudadas pela ambientação das fotos, sugerem uma lânguida lassidez que deve exercer uma atração mórbida nas meninas que voltavam da escola.
Terapeutas e psicanalistas andam preocupados com a incidência de casos de anorexia e bulimia em seus consultórios. Tem muita gente boa tentando compreender a epidemia de pele e osso que assola as mulheres em todos os cantos do mundo ocidental.
É certo que o problema não é novo. Quando eu era menino, uma vizinha rechonchuda morreu de tanto tomar vinagre para emagrecer. O que está acontecendo é uma valorização social da esqualidez por parte da mídia, o que leva as adolescentes a aderir ao modelo como a um modismo qualquer, sem medir as conseqüências irremediáveis para a sua saúde.
Ana e Mia (como são carinhosamente chamadas a anorexia e a bulimia pelas suas adictas) põem a descoberto uma grave síndrome da contemporaneidade. Por não ter o que revelar do seu mundo interior, as pacientes exibem o que sustenta o interior do seu corpo. O esqueleto à mostra revela, enfim, o ideal estético da desumanidade. Sem a sujeira das tripas, sem a volúpia das carnes. Só a pele, os ossos e o nada.
Já de tarde, Glória volta da rua com um caderno promocional de uma loja de roupas. Fiquei escandalizado com a escassez de carne das modelos. E não é somente a ossada à flor da pele que me impressiona. A maquiagem, o olhar e a postura das moças, ajudadas pela ambientação das fotos, sugerem uma lânguida lassidez que deve exercer uma atração mórbida nas meninas que voltavam da escola.
Terapeutas e psicanalistas andam preocupados com a incidência de casos de anorexia e bulimia em seus consultórios. Tem muita gente boa tentando compreender a epidemia de pele e osso que assola as mulheres em todos os cantos do mundo ocidental.
É certo que o problema não é novo. Quando eu era menino, uma vizinha rechonchuda morreu de tanto tomar vinagre para emagrecer. O que está acontecendo é uma valorização social da esqualidez por parte da mídia, o que leva as adolescentes a aderir ao modelo como a um modismo qualquer, sem medir as conseqüências irremediáveis para a sua saúde.
Ana e Mia (como são carinhosamente chamadas a anorexia e a bulimia pelas suas adictas) põem a descoberto uma grave síndrome da contemporaneidade. Por não ter o que revelar do seu mundo interior, as pacientes exibem o que sustenta o interior do seu corpo. O esqueleto à mostra revela, enfim, o ideal estético da desumanidade. Sem a sujeira das tripas, sem a volúpia das carnes. Só a pele, os ossos e o nada.
Imagem obtida em: melancolicosanonimos.blog.pt/622286/
4 comentários:
Ronaldo,
Com esse texto que nos leva a reflexão é de se perguntar: será da mídia a culpa ou cabe a cada uma de nós (mulheres e mães)a responsabilidade de criarmos as nossas filhas, não como objetos de consumo expostas nas vitrines da vida, e sim, como seres pensantes, capazes de fazerem escolhas inteligentes e sensatas?
Parece bem bobas estas meninas magrelas que afinal nem todas vão chegar a aluma coisa ou coisa nenhuma.Tambem até um cara chamado BIAL eatá na midia....
Desordens alimentares vêem de longe. A maioria das santas que faziam jejum sofriam de anorexia. Também a Imperatriz Sissi Austria era conhecida por ter tido anorexia crónica.
Agora, os media agravam e muito. Basta uma dieta, em plena adolescência e problemas que todas as famílias têm, para a desordem ocorrer. Depois anorexia e bulímia são a mesma moeda com duas faces.
Não sei o que o motivou ao post. Merece atenção. E eu sei, infelizmente, do que falo.
Vim aqui em busca do "desejo" da tertúlia do dia 15...
Um abraço e aínda bem que chama a atenção para este problema!
Muito bom! Vou enviar este texto para uma amiga em Lisboa que cuida deste assunto como psicoterapeuta. Dou-te o retorno que houver.
Creio que a tendência que se exacerba em nosso dias não é apenas a falta de consistência interior mas a necessiade de tornar-se virtual, de não ter peso, não ter tato,contato, toque.
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