A maçaneta girou, a porta rangeu e ficou entreaberta. Estava só em casa. Estava só no quarto. Ficou olhando a fresta com uma clara convicção: tinha alguém ali.
Estava só no quarto, estava só em casa, estava só no mundo. A solidão era seu elemento natural. A suposta presença atrás da porta desequilibrava seu modo de ser. Seja lá quem ou o quê estivesse ali, exigia que saísse de sua letargia, do seu alheamento às coisas do mundo.
Estava só no quarto, estava só em casa, estava só no mundo. A solidão era seu elemento natural. A suposta presença atrás da porta desequilibrava seu modo de ser. Seja lá quem ou o quê estivesse ali, exigia que saísse de sua letargia, do seu alheamento às coisas do mundo.
Era penoso situar-se no lado de lá da fronteira de si. Só sentia segurança da pele pra dentro. E agora, alguém ou algo espreitava, aguardando o menor descuido para entrar de vez no centro do seu refúgio.
Respiração pesada, suor pegajoso, olhos pregados na fresta que lançava um ângulo de luz quarto adentro.
Respiração pesada, suor pegajoso, olhos fechados pelo peso da vigília. A paz do escuro dentro do círculo fechado do sono.
Respiração pesada, suor pegajoso, olhos abertos em susto. A porta toda aberta.
Ninguém nem nada para além do umbral.
Ronaldo Monte - Clube do Conto da Parahyba
20.12.2008
20.12.2008
Ilustração: Fábio Cavalcanti
2 comentários:
belíssimo conto, ronaldo.
Ótimo conto, parabéns.
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