29 novembro 2008

Pequenina



Ele tomou teu corpo, Pequenina, e usou como alcova de todos os vícios. Ele te seduziu com o engodo da beleza e da juventude, mas não estava só. Trouxe com ele os homens velhos que se serviram de ti sem dó da tua pequenez, do teu desvalimento. Ele era apenas mais um daqueles que há muito tempo te cobrem de sangue e de luto.

Por duas vezes o mandaste embora, Pequenina. Mas ele sempre deu um jeito de ficar. E a raiva do desprezo fez com que viesse à tona o que restava oculto no porão dos vícios.

Teu pequeno corpo minguou mais ainda à sanha dos maus-tratos. Outros tentaram obrigá-lo a ir embora. Mas ele os convenceu de que ainda eras sua posse. E quando já pensavas em descansar e curar tuas feridas, uma nova carga de ódio se abateu sobre ti, pela ousadia de te pensares livre.
E teu corpo pequenino, exausto e arfante, espera indefeso o pontapé que te quebre a última costela.

Ronaldo Monte
Clube do Conto da Paraíba, 29.11.2008
Imagem obtida em: www.parceria.nl

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