28 novembro 2008

O prêmio no mural




Existem muitas formas de um autor ser premiado. O meu prêmio mais recente me foi dado por uma adolescente do Centro Comunitário de Mandacaru. Quando cheguei para a oficina de leitura, na terça-feira passada, ela me chamou pelo nome completo e me mostrou um painel escrito em letra cursiva. Fui eu que fiz, disse. E se afastou depressa, arisca como sempre. Tive uma emoção muito forte quando vi o fragmento de um texto que escrevi a algum tempo chamado “Consciência mestiça”. E estava lá como parte das atividades da semana da consciência negra:

O que me faz homem não é o lugar em que nasci, não é a cor da minha pele, não são as ondas do meu cabelo. O que nos faz a todos humanos é a linguagem que nos salva do isolamento e da morte. E o que me faz ser este ser humano particular é a língua que falo. Para saber quem sou, não precisa analisar meu sangue, vasculhar meus cromossomos, rotular a cor da minha pele. Basta escutar a língua que falo. E é nesta língua que encontro minha identidade.

A menina era participante do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI e há algum tempo eu tinha dado dois livros meus à monitora do Programa. Foi do livro de crônicas “Pequeno Caos” que ela tirou o texto.

Das várias maneiras de se receber um prêmio, esta é uma das mais preciosas. Vale para me reafirmar que é necessário continuar escrevendo, pois nunca sabemos que caminhos tomarão os nossos textos. E é uma emoção muito grande encontrar um deles escrito à mão numa cartolina, colado numa parede de um centro comunitário.

2 comentários:

Juliêta Barbosa disse...

Ronaldo,
Esse é o maior prêmio que um autor pode receber: tocar a alma do seu povo com palavras encharcadas do mais puro lirismo, e dele receber uma resposta imediata. Que bela homenagem a dessa menina. E que sensibilidade tem sua alma para escolher um dos mais belos textos que eu já li. Parabéns!
Onde posso encontrar seus livros?

Anônimo disse...

emocionante ver que não só eu sinto vontade de te mostrar o que me ensinaste...assim como o que se escreve, são os ensinamentos que são transmitidos, como sinto sua falta amado e inesquecível professor!!!
Rayssa