16 janeiro 2013

Nada de novo





É a quarta vez que começo este texto. Apaguei as outras versões porque todas as ideias que me ocorreram foram descartadas por excesso de pessimismo. Reconheço a dificuldade em encontrar um assunto agradável sem recorrer aos pequenos fatos do cotidiano doméstico. Mal chegamos a viver os primeiros quinze dias do Ano Novo e tudo nos indica que vamos continuar no velho mundo de sempre. É isto o que nos querem fazer acreditar os senhores da economia e da política, desde o mais obtuso vereador aos mais altos mandatários das grandes potências. Desde o técnico de contabilidade da esquina, ao mais festejado economista dos grandes conglomerados financeiros.
Para falar a verdade, nada de muito grave pode nos acontecer se as coisas caminharem, de fato, de mal a pior, como dizem e querem os donos do dinheiro do mundo. Nada pode nos acontecer que já não tenhamos vivido. Se não conseguirmos pagar nossas contas, vão nos tirar o cartão de crédito, o cheque especial e mandar nosso nome para o Cerasa. Já vivemos isto nos tempos de Fernando Collor. O governo pode deixar o funcionalismo público sem reajuste por anos a fio. Fernando Henrique já fez isto. A inflação pode voltar aos píncaros dos dois dígitos. Isto já aconteceu no tempo de Zé Sarney. Não vamos nos preocupar com os apagões, pois o País está caminhando para uma recessão e não vamos precisar de energia para tocar a produção industrial, do mesmo jeito que aconteceu também nos tempos do FHC. E a roubalheira que está comendo solta na construção dos estádios para a Copa é só uma reedição do que se roubou no tempo da construção de Brasília.
         Nada, portanto, de novo. Felizmente, digo eu. Pois o bom e velho sol continua nascendo todos os dias. Tem o mar enchendo e vazando como faz desde o começo do mundo. Tem sempre um resto de verde resistindo ao descaso dos poderosos. E tem os amigos, os antigos e os novos. Tem o pessoal mais querido que ama e briga com a gente, dependendo da veneta. Tem os livros para ler e reler. Tem os filmes para assistir, tem música para ouvir e dançar.
         Estamos apenas começando mais um ano. Todo mundo sabia que logo-logo ele deixaria de ser novo. Vejo o calendário e penso na trabalheira que temos pela frente. Às vezes me dá um desânimo, mas me lembro que o cronista Antônio Maria se dizia “brasileiro, profissão: esperança”. Eu que também sou cronista e brasileiro, me sinto também condenado a esta profissão de alto grau de insalubridade.

Um comentário:

Brunno Marcondes disse...

Muito bom professor.