02 janeiro 2013

O homem que ensina a ver no escuro




Faz algum tempo que escrevi uma crônica sobre a “Igreja Batista”, me referindo ao número de discípulos que gravitam em torno da sabedoria e paciência de João Batista Brito. Sempre me impressionou a capacidade do João em agregar as pessoas, deixá-las à vontade para expressar suas idéias, respeitar a diversidade de opiniões, falar com propriedade e sem empáfia sobre as coisas que lhe concernem. E dentre essas coisas, a que mais lhe concerne é o cinema.
Por isso foi grande a minha alegria em ver de novo a Igreja Batista reunida, desta vez lotando o auditório Linduarte Noronha, da Funjope, para assistir ao filme que Mirabeau Dias fez sobre o nosso JBB. De saída, o título é de fazer inveja a quem vive de escrever: “O homem que vê no escuro”. Minha filha mais velha sugeriu que eu processasse o autor, pois estava na cara que o título foi roubado de mim. Claro que concordei, lisonjeado, e certo de que não conseguiria fazer coisa melhor.
Mesmo um pouco longo para um documentário, o filme é conduzido com mão segura por Mirabeau que evitou o cansaço das entrevistas com a intercalação de trechos dos filmes citados por JBB. Foi divertido ver o tímido João, de jeans surrado e camisa quadriculada, no melhor estilo cow-boy, fazer a performance de um dos contos tirado do seu livro “Um beijo é só um beijo”. 
Sou um mau aluno de João, pois demorei muito a aprender o que diabos era diegese, conceito que ele usa em vestes caseiras, como quem toma café.  Mas o filme de Mirabeau é didático sem ser chato, exatamente como o seu objeto, conseguindo infiltrar em nós as noções mais complicadas da estética, da literatura e, obviamente, do cinema, sem nos fazer bocejar.
Minha mulher saiu da sessão dizendo que tinha assistido a um curso completo de cinema em menos de duas horas. Concordo com ela. Pelo menos uma coisa eu garanto: nunca mais vou ter dúvidas sobre o significado de diegese. E não se espantem quando me virem usar o conceito em uma de minhas crônicas. Será minha forma particular de pagar o dízimo à Igreja Batista e mostrar que não sou tão mau aluno assim.  

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