23 maio 2012

Posso ajudar?


Não adianta comprar montanhas de livros, assistir centenas de palestras, ler milhares de mensagens na internet. A auto-ajuda não funciona. Por uma questão muito simples: desde o momento em que nasce, o ser humano precisa do outro para sobreviver.

Um potro, ou um bezerro, quando nasce, levanta-se imediatamente e vai em direção ao peito da mãe fazer a sua primeira refeição. Você, cara leitora, caro leitor, se for deixado sozinho no lugar em que nasceu, a única coisa que será capaz de fazer é chorar até morrer. Por muito tempo você vai precisar de alguém, de preferência sua mãe, para pegar você e botar para mamar.

O que eu quero deixar claro é que todos nós, sem exceção, somos desamparados desde o berço até o leito de morte. A auto-suficiência humana é uma ilusão bastante conhecida como narcisismo. Não podemos, portanto, prescindir dos outros em nenhum momento de nossas vidas.

Se você já abriu um livro de auto-ajuda, deve ter reparado como as receitas de felicidade são simples e fáceis de encontrar, como qualquer produto vendido nos supermercados. A simplicidade das frases tem um objetivo definido: nos colocar num nível de infantilidade para então exercer um fascínio que nos enreda em suas teias, como um sedutor de menores. Isto causa uma dependência que faz com que o leitor, mesmo depois de constatar que a fórmula mágica não funciona, parta em busca de outro embusteiro, como um viciado que precisa sempre de uma dose mais forte da droga da qual depende.

Ajudar é um verbo transitivo. Requer uma segunda pessoa que ajude ou receba ajuda. Para isto existem os amigos, os familiares, os colegas de classe e de profissão. Para isto existem os vizinhos, os que visitam nossas casas, nossas cidades. Para isto existe a humanidade inteira, este bando imenso de desamparados à espera de um movimento global de solidariedade que nos resgate a todos da solidão e da miséria.

Um comentário:

Angela disse...

A mim parece que o 'nível de infantilidade' está em permanecer no estado de recém nascidos em que dependemos do outro para tudo.
Concordo que este "outro" deva existir, mas pode e deve variar em lugar da fixação em um só objeto.

Creio que as pessoas são diferentes e, se alguns nascem dependentes, outros já conseguem melhor viver sozinhos.

Não aprecio a produção da "auto-ajuda", quase sempre pobre e apelativa, mas creio que a intenção maior e talvez mal aproveitada, seja resgatar a competência individual para crescer e se responsabilizar por si mesmo sem dependência do 'antigo seio'.