É o xarope dos poetas. Foi Olavo Bilac quem o chamou de “amigo do peito”. Depois, Bastos Tigre escreveu As Bromilíadas, uma paródia de “Os Lusíadas”, em métrica e sistema de rimas semelhantes aos de Camões. O próprio dono do laboratório era poeta. Como poeta, mesmo dos menores, tenho o direito de tomar Bromil.
Mas não é ao Bromil de rótulo desvirtuado que encontro hoje nas farmácias que estou me referindo. O que eu quero mesmo é o Bromil de antigamente, aquele que vinha numa garrafinha fina, sextavada, embrulhada em papel de seda, que depois se usava para botar molho de pimenta. Quero o Bromil que minha mãe trazia nas longas noites de tosse e acessos de asma. Quero o gosto mentolado do Bromil na minha boca e a sensação do peito livre da angústia e do chiado. Quero a reconquista do sono depois do beijo tardio de boa noite. Quero o peso nos olhos e o quarto se desmanchando em sonhos.
Quero as velhas gripes e os antigos resfriados que todo mundo sabia diagnosticar. Um resfriado era um certo mal estar que lhe deixava o nariz escorrendo e com um pouco de tosse. Uma gripe era coisa mais séria. O corpo doía e você passava o dia de meias. Era ridículo, mas tinha o privilégio de não ir à escola. Em ambos os casos, era proibido beber gelado ou tomar picolé. Hoje em dia só existe essa hipotética virose que passou a nomear qualquer coisa que os médicos não sabem o que é.
Tenho uma mulher cuidadosa que me dá remédios, tenho uma amiga médica que me cura as mazelas, tenho duas filhas e um filho que se preocupam com a minha saúde, mas nada disso é capaz de me confortar no estado de desamparo a que uma gripe me condena. O menino velho que tosse e geme espera o único e impossível gesto que o salvará: uma colher do antigo xarope levado à boca pela mão antiga que depois afagará sua cabeça e o fará dormir.
Um comentário:
este desejo é bem mais que qualquer gripe e só sonhar satisfaz.
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