11 março 2012

Pessimismo



Algumas pessoas reclamaram do meu pessimismo quanto ao futuro do meu neto João. Acontece que meu pessimismo é congênito. Nasci assim. Mas exatamente por ser assim é que cultivo a esperança, como quem cuida de uma flor rara numa estufa. Vivo procurando motivos para manter uma mínima crença de que o ser humano algum dia venha a mudar sua índole fundada na maldade.
Não é por acaso que as notícias sobre o mal são facilmente aceitas, mesmo procuradas pela grande maioria das pessoas. O feio, o mórbido, o violento recebem tratamento diferenciado nos meios de comunicação, resultando numa via de mão dupla de alimentação: mais notícias ruins, maior audiência. Maior audiência, mais notícias ruins. E se não fizermos um esforço de reação, acabaremos, mesmo os mais lúcidos, envolvidos nesta gosma midiática de pornografia e violência.
De minha parte, este esforço se traduz em resistir à naturalidade do mal com a construção de certos artifícios racionais como a solidariedade, a compaixão e a esperança. Falo de artifícios, pois esses atributos não são congênitos. Eles têm de ser construídos no cotidiano de nossas relações. Todos sabemos o quanto é difícil manter a boa vontade em um meio competitivo e desagregador. Daí que, em boa parte as vezes, somos vencidos pela corrente majoritária do mal. Mas é preciso perseverar.
Não estou propondo que saiamos polianamente tirando lições de otimismo das adversidades. Como o menino de quem ninguém gostava que, ao ganhar uma caixa cheia de excrementos como presente de aniversário, gritou exultante: ganhei um cavalo...
Não é este o tipo de otimismo que desejo para o meu neto João, nem para ninguém. No pouco tempo em que convivermos neste planeta, gostaria que ele aprendesse um pouco dessa teimosia em cultivar numa estufa precária essa flor improvável da esperança. 

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