Algumas pessoas reclamaram do meu
pessimismo quanto ao futuro do meu neto João. Acontece que meu pessimismo é
congênito. Nasci assim. Mas exatamente por ser assim é que cultivo a esperança,
como quem cuida de uma flor rara numa estufa. Vivo procurando motivos para
manter uma mínima crença de que o ser humano algum dia venha a mudar sua índole
fundada na maldade.
Não é por acaso que as notícias
sobre o mal são facilmente aceitas, mesmo procuradas pela grande maioria das
pessoas. O feio, o mórbido, o violento recebem tratamento diferenciado nos
meios de comunicação, resultando numa via de mão dupla de alimentação: mais
notícias ruins, maior audiência. Maior audiência, mais notícias ruins. E se não
fizermos um esforço de reação, acabaremos, mesmo os mais lúcidos, envolvidos
nesta gosma midiática de pornografia e violência.
De minha parte, este esforço se
traduz em resistir à naturalidade do mal com a construção de certos artifícios
racionais como a solidariedade, a compaixão e a esperança. Falo de artifícios,
pois esses atributos não são congênitos. Eles têm de ser construídos no
cotidiano de nossas relações. Todos sabemos o quanto é difícil manter a boa
vontade em um meio competitivo e desagregador. Daí que, em boa parte as vezes,
somos vencidos pela corrente majoritária do mal. Mas é preciso perseverar.
Não estou propondo que saiamos
polianamente tirando lições de otimismo das adversidades. Como o menino de quem
ninguém gostava que, ao ganhar uma caixa cheia de excrementos como presente de
aniversário, gritou exultante: ganhei um cavalo...
Não é este o tipo de otimismo que
desejo para o meu neto João ,
nem para ninguém. No pouco tempo em que convivermos neste planeta, gostaria que
ele aprendesse um pouco dessa teimosia em cultivar numa estufa precária essa
flor improvável da esperança.
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