Acontece que eles estavam numa feira agropecuária no interior de São Paulo. Lugar de macho. E logo um bando de machos se aproximou perguntando se eles eram gays. Quando souberam que eram pai e filho, os machos se afastaram para voltar logo depois com um grupo maior de machos. O bando então passou a agredir os dois com socos e pontapés. O filho sofreu ferimentos leves. O pai teve uma orelha decepada a dentadas.
Eis um sinal destes tempos. Por um lado, vários segmentos da sociedade avançam com a adoção de medidas acolhedoras das mais diversas formas de comportamento. Por outro lado, alguns segmentos fecham o círculo da intolerância à diversidade, chegando ao absurdo de condenar uma expressão pública de carinho entre pai e filho.
É com alegria que vejo a cada ano aumentar o número de participantes das paradas gays nos mais diversos cantos do mundo. Recebo como um ato civilizatório a legalização dos casamentos homoeróticos, assim como a adoção de filhos por casais homossexuais. A flexibilização dos dispositivos legais está fazendo com que um número crescente de casais do mesmo gênero se exponha nos lugares públicos, usufruindo livremente de sua cidadania.
Recusar a diferença, já sabemos, é não aceitar no outro aquilo que rejeitamos em nós. Daí o ódio aos homossexuais, às mulheres, aos negros e aos adeptos de crenças diferentes das nossas. Mas o que me impressiona no caso da feira do interior paulista é a não aceitação de qualquer manifestação pública de carinho. Um abraço entre dois homens é uma ameaça à moral fundamentalista do machismo. Mesmo que seja um abraço entre dois amigos. Ou entre um filho e um pai.
3 comentários:
Sim Ronaldo, concordando com você, percebo um detalhe a mais neste comportamento - todo e qualquer ato torna-se motivo para a descarga da ira selvagem que mora no interior de pessoas infelizes e inconscientes de tudo!
Não há motivo, busca-se apenas uma desculpa, um canal para se livrar deste ódio.
Saudade grande do tempo em que via seu belos textos nascendo. Saudades maior ainda de todas as pessoas em que compartilhava isso comigo. Mil Beijos
Ronaldo,
Em seu livro Vivendo, Amando e Aprendendo, Leo Buscaglia nos diz: “A vida é um banquete e a maior parte dos idiotas está morrendo de fome”.
Na vida dessas pessoas que atacaram pai e filho faltou a liturgia afetiva do lar com as suas expressões de carinho e ternura, por isso a ignorância foi maior do que o preconceito.
É, meu amigo, estamos todos juntos e, no entanto, estamos morrendo de solidão, pois quando a linguagem do amor é escassa, a ignorância abre a porta e expõe as suas mazelas. Obrigada, pela partilha.
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