26 outubro 2010

Acabou




Até que enfim, acabou. Chega ao fim a mais infame campanha política que já testemunhei em toda minha quase longa vida. Já não aguentava mais o Serra com seu Paulo Preto e a Dilma com sua Erenice, ambos enrolados em piruetas verbais para se descontaminar da proximidade insalubre dos velhos companheiros de jornada. Já não aguentava as injúrias sem fundamento lançadas pelos candidatos estaduais contra aliados de anteontem.
Basta. Acabou. Sigam, os vitoriosos, para o inferno climatizado dos gabinetes ornados de mármore e cristal. Voltem, os derrotados, para o purgatório de suas varandas, lambendo as feridas enquanto esperam alguma nesga de poder proporcional ao número de votos obtidos.
Vitoriosos ou derrotados, saiam, por favor, da minha frente. Não agüento mais a gritaria, os sorrisos forçados, os abraços ruidosos, os dentes arreganhados do lobo por trás da máscara de cordeiro.
Quero de volta a normalidade dos crimes passionais, dos ajustes de conta do tráfico, dos acidentes naturais, da corrupção cotidiana que já não causa indignação, de tão banal.
Quero as ruas sem bandeiras, sem os entulhos dos santinhos jogados fora no rastro das carreatas. Quero de volta o lixo comum entulhado nas calçadas, os cruzamentos devolvidos aos mendigos, vendedores de bugigangas e limpadores de pára-brisas.
Fica, mais uma vez, o gosto amargo de que seremos nós, os eleitores, que pagaremos a conta alta dos gastos de vencedores e vencidos. Fica, mais uma vez, a certeza de que seremos solenemente esquecidos em nossos anseios de cidadania, até que chegue a próxima temporada de iniqüidades.
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Um comentário:

Angela disse...

Foi tanta revolta, justificada e apoiada que o texto duplicou-se!

de acordo, Ronaldo.