22 outubro 2010

Sacristão ou diácono?




Sempre achei que esta eleição fosse para Presidente da República e, aqui na terrinha, para Governador do Estado. Por isso, esperava que a propaganda dos candidatos priorizasse os temas ligados às políticas públicas necessárias ao bem-estar do nosso povo e à estabilidade econômica do País. Mas pelo nível e pela qualidade dos argumentos, tudo me faz parecer que estou sendo convocado para eleger o sacristão da de paróquia ou o diácono de um templo evangélico.

Nunca antes na história deste País fui tão bombardeado por mensagens do mais baixo nível fundamentalista. Nunca o demônio foi tão veementemente convocado como cabo eleitoral. Nunca vi candidatos com tanto medo de arder no fogo do inferno. Ou de perder o voto dos eleitores que se deixam enganar pelo discurso dos pseudo-fundamentalistas.

A grande vedete da discussão, a nível nacional, é a questão da legalização do aborto. Ambos os candidatos estão na maior saia justa, pois, como pessoas esclarecidas que são, em algum momento de suas vidas devem ter se declarado a favor do aborto assistido. É divertido ver as piruetas verbais que são obrigados a fazer para desmentir suas antigas posições.

Os candidatos prestariam um imenso serviço à nação se declarassem que a legalização do aborto é uma questão de saúde pública. Contra o argumento farisaico da defesa da vida, basta mostrar as estatísticas das mulheres que morrem ao se submeter ao trabalho dos clássicos fazedores de anjos, bastante conhecidos e freqüentados por muitos dos fundamentalistas quando querem se livrar da aporrinhação de um filho fora do casamento.

Quanto à baixaria a nível estadual, não me espantaria se o próprio diabo saísse vitorioso no segundo turno, tanta é a gritaria em torno do seu nome. Parece que os próprios candidatos esqueceram que o Estado é laico. Da forma como seus estrategistas de campanha dão ênfase à pureza de suas convicções religiosas e atacam as supostas ligações do adversário com o capeta, parece que a eleição é para algum cargo de prestígio duvidoso na igreja da esquina.

Por mais que o Serra se pareça com Dom Helder, não confio nele para administrar o apurado das esmolas da paróquia. E Dilma não me convence que saiba o menor versículo da Bíblia de cor. Portanto, parem de nos tratar como um rebanho de idiotas e mostrem seus verdadeiros programas de governo.

Nenhum comentário: