Estamos em pleno agosto, mês das ventanias. Agosto sempre me serve como uma metáfora de passagem. Estamos saindo da estação das chuvas e prevendo o sol que virá com setembro. Mas até lá, teremos que nos haver com os ventos de agosto, que tanto nos chateiam com seus alvoroços, quanto nos alegram com a dança das saias.
Os ventos de agosto levam para longe os miasmas e o mofo criados nos aguaceiros. Seus redemoinhos denunciam o sujo das ruas, carrosséis de papel e folhas secas. Suas noites friorentas propiciam a reconciliação dos casais e atiçam os solteiros em busca de uma costela onde se esquentar.
Agosto irrita, às vezes. O cinzento do céu do inverno ainda teima em nos tapar o sol. As rajadas mais fortes do vento castigam com areia as pernas dos que já se aventuram à beira-mar. Foi o mês em que morreu Getúlio, em que cai o dia das sogras, em que dizem que a bruxa anda solta. Por falar nisso, neste agosto de 2010 vamos ter uma sexta-feira 13.
Mas se não ligarmos para esta fama de mês aziago, podemos viver em paz o que nos resta deste agosto. Enfrentemos com alegria a sua ventania. Vamos pedir para que ela leve, junto com os miasmas e o mofo, as nossas tristezas pelas notícias ruins acumuladas neste ano. Que o vento forte sopre para longe a maldade encruada no coração dos homens.
Pode parecer um desejo infantil, ilógico, esse meu. Mas é o que me ocorre pedir a agosto, este mês de passagem do peso das águas para o céu limpo sobre os campos e as praias. Que o seu mar revolto nos entregue às ondas calmas. Que sua ventania nos leve à brisa leve do verão. E quando estivermos torrando sob o calor da última quadra, lembremos com carinho dos momentos de terna intimidade que agosto nos deu.
Ilustração: Ventania, Parreiras 1888, Pinacoteca do Estado de São Paulo
4 comentários:
Ow, que coisa mais linda! Esse meu professor sempre me encanta. Quantas saudades de você, meu caro querido. Não sei se lembras de uma "historinha"que tu lesse pra gente no grupo de estudo, em sei lá que século foi aquele, sobre as sobrancelhas do lenhador? Tu lembra? Se lembrar me encataria muito lêr-la novamente. Na verdade gostaria que vois micê narrasse, mas a leitura já é de meu agrado. Vai no meu blog também pra saber um pouco de minhas andanças! Muitos xerinhos, Manú. http://manuelapaes.blogspot.com
Ronaldo,
Ah! Como seria bom se pudéssemos acrescentar mais dias ao mês de agosto! Talvez esses “momentos de terna intimidade” servissem para abrandar o coração das pessoas.
Gosto do vento, do frio... Sou do dentro, dos museus e das saudades... Agosto provoca uma intimidade, um ir lá dentro de nós mesmos, que nenhum outro mês é capaz de alcançar. Obrigada, por me lembrar disso. Bjs
Realmente, te devo uma visita! Não esqueço jamais desse rostinho fofo aí, na ponta da escada rolante. Olha, amostrada eu tô sim, falando inglês eu tô não, mas tô tentando e, sim, me alimentando e alimentando os bichinhos ao meu redor. Podes me mandar teu endereço residencial? Manda no meu e-mail, acho que você tem, se não tiver te mando. Xêros.
Muito lindo o texto!
beijos
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