Há muito que os psicanalistas vêm falando sobre a falência da função paterna. Não vou discutir teoria, pois este espaço é pequeno para assunto tão extenso e complicado. Prefiro falar do que vejo e escuto por onde ando: está faltando pai.
A primeira constatação é a mais óbvia. É cada vez maior o número de famílias composta de uma avó, algumas filhas e vários netos. Muitas vezes são essas avós que garantem o sustento da casa, já que as mães são muito jovens e não estão capacitadas para ganhar minimamente algum dinheiro. E este não é um fenômeno exclusivo das classes menos favorecidas. Existem variações da situação nas famílias de alguma posse.
A segunda constatação é a de que, mesmo quando a figura paterna está presente, sente-se a falta da autoridade paterna. Muito mais que a obediência, os filhos não aprenderam os mais mínimos princípios do companheirismo e da reciprocidade. Tenho dois exemplos vividos por mim. No primeiro, numa fila de supermercado, uma mãe pede a seu filho de uns dez anos que a ajude a carregar as compras. Junto com o olhar de desdém, veio a pergunta insolente: e por que eu deveria fazer isto? Aí eu não agüentei e parti pra cima do garoto dizendo que aquelas compras eram para a sua casa e ele tinha a obrigação de ajudar sua mãe. O menino arregalou os olhos, segurou os pacotes que podia e saiu atrás da mãe que me agradeceu meio envergonhada. Fui tratado como herói pelas pessoas das filas.
O segundo exemplo deu-se no terraço de minha casa. Comíamos ostras e eu me dei ao trabalho de abrir algumas delas para o filho de uma amiga, também próximo dos dez anos. Quem já abriu ostras sabe o trabalho que dá e os cortes a que as mãos estão sujeitas. Passado algum tempo, ao ver que o menino ia na cozinha, pedi que ele trouxesse uma cerveja de lá. Ouvi a mesma pergunta insolente: por que eu devia fazer isto. Não precisei responder nada. Só a minha cara foi suficiente para convencê-lo a me fazer o favor.
Lembrei de mais um. Estava tomando o café da manhã na pérgola de um hotel, à borda da piscina. Na mesa ao lado, a jovem mãe tomava seu café enquanto o jovem pai pastorava o júnior. Num certo instante, o rapaz olha apavorado para a mulher, pedindo socorro porque o bebê queria entrar na piscina. Dessa vez tentei ficar calado, esperando o desfecho da situação. Mas a mãe também não decidia o que fazer e olhou pra mim pedindo ajuda. Disse apenas para o rapaz tirar o menino da beira da piscina. Ele atendeu minha brilhante sugestão e me olhou agradecido.
O próximo domingo é o dia dos pais. Talvez seja um bom dia para refletirmos sobre o papel que esta figura opaca ainda representa na família contemporânea. Mulheres e filhos com a palavra.
5 comentários:
Boa Ronaldo!
Falta pai, falta respeito, falta orientação, falta significado...
parabéns por ter se arriscado a ser mal entendido.
Maravilha seu espaço, parabens. Indicarei nas minhas páginas, aguarde.
Abração
www.luizalbertomachado.com.br
Concordo contigo em gênero, número e grau. Se existissem mais pais de verdade, a bagunça familiar seria menor. Parabéns pelo artigo.
Um beijo pelo seu dia, meu querido.
Quanto a esses exemples aí, eu os vejo, laém de narua, como pediatra todos os dias.
Ótima observação! Como ja comentaram, parabéns por se arriscar a ser mal compreendido! Aliás, nao sei se te falei, há alguns anos comprei seu livro! Eu morava em Marília, mas pedi pela net! falei com você por email na época! Gostei muito!
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