Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que cochila aí ao lado. É minha mais nova neta, a Malu. Talvez eu devesse dizer futura neta, pois ela ainda está no quinto mês de gestação e o flagrante se deu na barriga de sua mãe, mulher do meu filho. Mas aí é que está um dos grandes problemas da humanidade: quando é que uma pessoa começa a existir?
Não quero perder tempo aqui com o problema sobre o início da vida, pois isso tem sido motivo para um desfile de discursos preconceituosos e pseudocientíficos, principalmente quando está em questão o direito ao aborto. Minha preocupação é bastante mesquinha e pessoal: posso considerar Malu como minha neta e começar a comprar coisas e fazer planos para ela, antecipando em alguns meses sua existência fora do ventre da mãe?
Vejam bem a situação atual em que estão as coisas: enquanto um projeto de menina se nutre, dorme e dá cambalhotas no exíguo espaço que lhe protege, um batalhão de adultos escolhe seu nome, borda esse nome em lençóis e toalhas cor-de-rosa, faz planos para os seus quinze anos e já pensa no que ela vestirá no baile de formatura. Em suma, já existe todo um presente e um futuro prontos para ela viver. Certos papéis já lhe estão destinados pelas condições de classe social e nível de informação de seus pais e adjacentes.
Enquanto isso, a futura Malu dorme, cresce e dá cambalhotas. Mas será que é de uma futura neta que estou falando? Ela já está aqui, determinando o que penso e escrevo. Essas meninas começam cada vez mais cedo a perturbar a vida a gente.
3 comentários:
Lindo, Ronaldo!
Abraço pra Malu!
Rona,
Assim não dá.....a Malu e seu texto me fez borbulhar de chorar.Tenho orgulho de ser amiga da fam´lia Monte.bjos
Silvana
Essa ansiedade tem gosto de vitória! Criança é algo bárbaro para a vida de qualquer um que saiba construir uma relação harmoniosa. Mallu é um lindo nome, parabéns pela netinha !
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