Chamava-se André, mas gostaria de se chamar Casimiro José Marques de Abreu. Daria tudo para morrer tuberculoso. Daria a vida para ter escrito o poema Minh’alma é triste. Ah,como queria pegar da pena e escrever:
“Minh'alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o alvor da aurora...”
Ó, meu Deus, se Yolanda pudesse um dia ler no seu caderno de folhas pálidas a constatação metafísica de que
"Minh'alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria...”
Não, talvez Yolanda não gostasse muito dessa coisa pesada de mortos, talvez nem curta o carpir melancólico dos sinos. Seria melhor dizer que
“Minh'alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato...”
André sabia muito pouco de Yolanda. E quanto mais queria ser Casimiro de Abreu, mais via sua musa sumir com a galera em busca dos embalos. André definhava, dormia mal, comia quase nada. Varava as noites com a janela aberta para ver a hora em que sua amada voltava, alegre, não sabia bem de onde.
“Dizem que há gozos no viver d'amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste...”,
pensava André, sob a luz pálida da sala.
Em algum lugar do mundo nascem flores, pensava André, menos aqui, neste pedaço de terra esquecido de Deus, onde faz sol ou chove, chove a cântaros. Como queria viver (morrer) em outras plagas para poder dizer a Yolanda:
“— Eu vejo o mundo na estação das flores
Tudo sorri — mas a minh'alma é triste!”
A luz pálida do sol mandou Yolanda pra cama e o pálido André para seu velho exemplar de Primavera.
Ronaldo Monte - Clube do Conto - tema: Pálido
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