Vinha dirigindo meio distraído quando bati de frente com a faixa exibida sobre o muro da casa de esquina: “Colocamos mega-hair no nó italiano e na queratina com hora marcada”. Minha pobre capacidade hermenêutica sentiu-se desafiada por aquele enigma suburbano.
Pondo em prática o método desconstrutivo, comecei por separar o texto em pedaços conhecidos e desconhecidos. Meus parcos conhecimentos de inglês permitiram deduzir que o termo mega-hair devia se referir a uma cabeleira farta, daquelas dos rastafaris ou das louras adventícias.
Hora marcada, por sua vez, não deveria designar nada de novo além daquele velho procedimento há muito erradicado dos consultórios médicos. Restaram apenas, portanto, o nó italiano e a queratina.
Houve um tempo em que os italianos eram desbravadores de mares, tal como Colombo e Vespuci. Quem sabe o tal nó italiano era alguma espécie de nó de marinheiro? Quanto à queratina, o dicionário não ajuda muito. Remete a ceratina, que vem a ser “uma proteína fibrosa e pouco hidrossolúvel, comum na epiderme, constituinte principal do cabelo, unhas, pêlos, tecidos córneos... etc.”
De quase nada adiantou recorrer às mulheres da casa, pois são pouco dadas a salões de beleza, contentando-se com um ritual semanal de manicure ali mesmo no terraço. Aproveitei um desses momentos para me livrar definitivamente do meu analfabetismo capilar. Mira, a moça das tesouras e alicates, não soube dizer muito bem do que se tratava. Nem mesmo um telefonema para o próprio salão de beleza esclareceu muita coisa. Soubemos apenas que a coisa era cara. Cento e cinqüenta reais apenas o nó italiano e duzentos com a aplicação da queratina. O preço dos cabelos a ser implantados não estava incluído.
Saí do terraço chateado. O enigma continuava praticamente intacto. Entrei no escritório, liguei o computador e acessei o google. Foi só escrever “megahair nó italiano queratina”, e pronto. Todo o mistério do mundo estava resolvido em poucos segundos. Não vale nem a pena contar o que é. Quem quiser que vá lá ver.
5 comentários:
Caro Ronaldo: recebi sua crônica por e-mail, comecei a lê-la e ri a bandeiras despregadas. As mulheres de casa vieram saber o motivo de tanto riso. Lemos a crônica juntos. Mas nenhuma delas também me foi útil para o desvendamento do nó italiano. Felizmente, graças a São Google, já estou devidamente instruído. São demais os mistérios deste mundo! Carlos Machado, São Paulo-SP
Muito bom! Posso deduzir o que seja , mas vou me certificar! Deus meu, o que não se inventa!
Obrigada pela visita e pelo elogio!
Não,não escrevo poesias,é uma arte que não domino!rs
Seja sempre bem vindo ao blog!
=)
Clarissa
Lo leí intrigado hasta el final. Luego (supongo que todos lo hicieron) salté a google...
Un abraço. Muito bom il seu blog.
As esdrúxulas inserções linguísticas em nosso idioma fatalmente conduzem a essa espécie de crise gramatical pelo qual você passou. Belo Texto!
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