A alma mora no fundo do corpo. Neste sentido, ela é muito mais misteriosa do que a alma das religiões ou dos medos noturnos das crianças.
Parte da memória de tudo o que nos entra pelos olhos, pela boca, pele, ventas e ouvidos, permanece num canto obscuro do ser, reduzida a enigmas que se movem desordenadamente, apelando para voltar ao sentido que perderam ao penetrar no nosso corpo.
Situada numa região de fronteira entre o corpo e a linguagem, a alma é a operária que dá sentido aos nossos afetos. É o local onde se dá a superação que nos tira da confusão e nos lança no terreno da solidariedade. Pelo trabalho da alma, tudo o que nos invade pelos sentidos é devolvido ao mundo como linguagem.
Vista assim, a alma é o que nos torna humanos, fabricando a linguagem e nos dando a possibilidade de comunicação. Daí, a sua imortalidade. Pois a linguagem antecede a nossa entrada no mundo. E quando desaparecemos, algo do que transformamos em linguagem irá habitar como enigma o terreno obscuro dos afetos dos nossos descendentes, exigindo de suas almas a continuidade do eterno trabalho de nossa transformação em nós mesmos.
Ilustração: Óleo sobre tela de Carlos Godinho
Obtida em: www.galeriaaberta.com
Obtida em: www.galeriaaberta.com
3 comentários:
Ronaldo,
Gosto de vir aqui porque sempre encontro alimento para minha alma...
Descobri um outro espaço que gosto muito e me lembra você:http://entremares.blogs.sapo.pt/ Tem um texto sobre os "Cinco objetos", que fez parte da Tertúlia Virtual, e um outro sobre "Meninos de Darfur" que são emocionantes.
Nossa,muito bonito!Vou até roubar a última frase! hehe
Belo texto, seus textos são afetivos e muito de bom gosto.
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