Não se pode chamar de perversão. Nem chega mesmo a ser um vício. O que André tem pode ser chamado de costume. André tem o costume de usar luvas.
Não é sempre, nem é em todo lugar. Tampouco é sempre a mesma luva. André tem uma luva para cada ocasião.
Quando Ana Beatriz viu André pela primeira vez, ele tomava sorvete de coco com luvas brancas. Ficou fascinada com a maneira elegante e precisa com que ele segurava a taça, manuseava a colher. Mas logo lhe bateu uma espécie de remorso. E se ele tivesse alguma doença de pele, coitado. Afastou-se olhando sorrateira para André e aquelas luvas não saíram de sua cabeça por uma semana.
Uma semana foi o tempo que Ana Beatriz levou para reencontrar André sozinho numa mesa de bar. Dessa vez ele usava luvas amarelas e tomava cerveja. Os olhares dos dois se cruzaram e ela não teve forças para recusar o convite de André para sentar.
Era atração, mas era muito mais curiosidade sobre as luvas que arrastaram Ana Beatriz à mesa. Sentou já com os olhos fixos nas mãos do rapaz. Ele notou e logo cuidou de explicar. Tinha essa mania. Usava luvas da cor mais próxima do que iria comer ou beber. Nada demais. Um amigo psicanalista garantira não ser doença.
A conversa mudou de rumo, pulou de André para a moça, seus gostos, suas manias, sua vida mais íntima, seu estado civil. Viúva. Ana Beatriz era viúva há quase um ano. Desde esse tempo, nenhum homem tocara seu corpo. Mas de um jeito meio confuso, insinuou que já era tempo de aliviar o luto fechado.
Não tinha lugar mais seguro do que o apartamento de André. Prédio pequeno, sem porteiro, vizinhança calma que se recolhe cedo. Ana Beatriz subia as escadas lentamente, a mão esquerda enlaçada com força à luva de André.
Ela esperou um tempo no sofá da sala enquanto ele dava um jeito rápido no quarto. Depois ele veio apanhá-la com as mãos descalças, deslizando com ela pelo corredor. Sentados na beira da cama, hesitantes sobre o que fazer, a moça sussurra meio rouca: vai com calma, André. Lembre-se que sou viúva. O rapaz então se levantou, levou um pouco tempo mexendo na porta do meio do guarda-roupa e virou-se mostrando as mãos. Beatriz saiu correndo do quarto quando viu as mãos de André vestidas com luvas de renda negra, um curto babado à altura dos punhos abotoados com pequenas pérolas.
Clube do Conto da Parahyba
Não é sempre, nem é em todo lugar. Tampouco é sempre a mesma luva. André tem uma luva para cada ocasião.
Quando Ana Beatriz viu André pela primeira vez, ele tomava sorvete de coco com luvas brancas. Ficou fascinada com a maneira elegante e precisa com que ele segurava a taça, manuseava a colher. Mas logo lhe bateu uma espécie de remorso. E se ele tivesse alguma doença de pele, coitado. Afastou-se olhando sorrateira para André e aquelas luvas não saíram de sua cabeça por uma semana.
Uma semana foi o tempo que Ana Beatriz levou para reencontrar André sozinho numa mesa de bar. Dessa vez ele usava luvas amarelas e tomava cerveja. Os olhares dos dois se cruzaram e ela não teve forças para recusar o convite de André para sentar.
Era atração, mas era muito mais curiosidade sobre as luvas que arrastaram Ana Beatriz à mesa. Sentou já com os olhos fixos nas mãos do rapaz. Ele notou e logo cuidou de explicar. Tinha essa mania. Usava luvas da cor mais próxima do que iria comer ou beber. Nada demais. Um amigo psicanalista garantira não ser doença.
A conversa mudou de rumo, pulou de André para a moça, seus gostos, suas manias, sua vida mais íntima, seu estado civil. Viúva. Ana Beatriz era viúva há quase um ano. Desde esse tempo, nenhum homem tocara seu corpo. Mas de um jeito meio confuso, insinuou que já era tempo de aliviar o luto fechado.
Não tinha lugar mais seguro do que o apartamento de André. Prédio pequeno, sem porteiro, vizinhança calma que se recolhe cedo. Ana Beatriz subia as escadas lentamente, a mão esquerda enlaçada com força à luva de André.
Ela esperou um tempo no sofá da sala enquanto ele dava um jeito rápido no quarto. Depois ele veio apanhá-la com as mãos descalças, deslizando com ela pelo corredor. Sentados na beira da cama, hesitantes sobre o que fazer, a moça sussurra meio rouca: vai com calma, André. Lembre-se que sou viúva. O rapaz então se levantou, levou um pouco tempo mexendo na porta do meio do guarda-roupa e virou-se mostrando as mãos. Beatriz saiu correndo do quarto quando viu as mãos de André vestidas com luvas de renda negra, um curto babado à altura dos punhos abotoados com pequenas pérolas.
Clube do Conto da Parahyba
3 comentários:
Que lindo! fiquei com alguns sentimentos pululando ao mesmo tempo. Sem deixar de rir, me emocionei com a delicadeza de André e me afligi com a fuga de Ana Beatriz que...não entendi!
Bem, obrigada pela visita no meu "microargumentos". Como já aprendi a colocar à vista os sites que mais aprecio, agora não perco suas histórias. Um abraço e grata pelas emoções gostosas.
Que pena, Ronaldo, ela não entendeu a delicadeza do gesto de André.Preconceito, será?
Oi, Rona! Minha segunda visita ao blog!
Olha só, eu consegui encontrar a música de MPB-4! Ela está no cd "Caminhos livres", de 1983. "Janela de apartamento", não é essa? Como faço para mandar a música? Bjo!
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