Tenho uma foto antiga de meu pai cercado com seus colegas de trabalho, todos com seus indefectíveis ternos de linho branco. O que chama a atenção é que um deles está de gravata preta e tem um pedaço de tecido preto na lapela do paletó. O pessoal mais velho sabe que o tecido preto se chama fumo e quer dizer que aquela pessoa perdeu alguém muito próximo recentemente. É uma demonstração externa de sofrimento e nos lembra que devemos ser tolerantes com aquela pessoa, respeitando o seu recolhimento, permitindo que viva até a exaustão o seu luto.
Das viúvas de antigamente, esperava-se que usassem luto fechado por um ano, o que exigia que todos os seus vestidos fossem tingidos de preto e mantivessem um comportamento sóbrio, sem nenhuma manifestação exacerbada de alegria durante doze meses. Só depois da missa de um ano é que lhes era permitido usar o luto aliviado, o que queria dizer que suas roupas podiam agora ser mescladas de preto e branco ou feitas com tecidos de cores sóbrias, como o azul marinho ou o marrom.
Era triste, sim. Mas era justamente de tristeza que se tratava. A tristeza aceita como um sentimento digno de ser exteriorizado, com regras e normas aceitas pela comunidade que partilhava e respeitava os enlutados.
Hoje, sua tristeza não interessa a ninguém. Se estiver triste, esconda-se. Você não será bem aceito nos templos maníacos da sociedade sem dor e sem memória. Sua tristeza não cabe nem mais nas igrejas ou nos cemitérios. Tudo virou festa. Aos que insistem com suas melancolias e estados depressivos, restam os livros de auto-ajuda ou os comprimidos de tarja preta. A mesma tarja que antes se via na lapela dos paletós dos viúvos.
Imagem obtida em: www.flickr.com
Das viúvas de antigamente, esperava-se que usassem luto fechado por um ano, o que exigia que todos os seus vestidos fossem tingidos de preto e mantivessem um comportamento sóbrio, sem nenhuma manifestação exacerbada de alegria durante doze meses. Só depois da missa de um ano é que lhes era permitido usar o luto aliviado, o que queria dizer que suas roupas podiam agora ser mescladas de preto e branco ou feitas com tecidos de cores sóbrias, como o azul marinho ou o marrom.
Era triste, sim. Mas era justamente de tristeza que se tratava. A tristeza aceita como um sentimento digno de ser exteriorizado, com regras e normas aceitas pela comunidade que partilhava e respeitava os enlutados.
Hoje, sua tristeza não interessa a ninguém. Se estiver triste, esconda-se. Você não será bem aceito nos templos maníacos da sociedade sem dor e sem memória. Sua tristeza não cabe nem mais nas igrejas ou nos cemitérios. Tudo virou festa. Aos que insistem com suas melancolias e estados depressivos, restam os livros de auto-ajuda ou os comprimidos de tarja preta. A mesma tarja que antes se via na lapela dos paletós dos viúvos.
Imagem obtida em: www.flickr.com
4 comentários:
Muito bem, Ronaldo. Você acertou em cheio. De vez em quando você acerta. O texto está muito bom.
Dôra Limeira
Esta semana, ontem ou anteontem, vi uma conversa na tv exatamente sobre isto. O luto que hoje é quase proibido.
Um dos participantes era Fernado Bonassi. O mediador perguntou: quanto deve durar o luto? E ele, lindamente, respondeu: enquanto seu coração chorar.
Um beijo grande.
Ronaldo,
Mais um belo texto transbordando sensibilidade. Parabéns!
Pelo que já li aqui, creio que, de vez em quando vc não acerta, só para confirmar os acertos.
Mas, o que digo eu, se nem creio em acertos e êrros! Vc tem ótimas idéias e uma bela alma e as coloca em palavras de forma soberba,parabéns moço!
Postar um comentário