12 setembro 2006

Esperando setembro



Já vai setembro quase em sua segunda metade, e ainda não disse a que veio. Antigamente, muito antigamente, setembro começava logo. Talvez intimidado pelos desfiles militares, o verão se apresentava ao serviço já no dia sete de setembro. Todo mundo ia assistir à parada com roupa de banho por baixo, pois era falta de respeito à Pátria assistir ao desfile em trajes menores. Mas sejam lá quais fossem os motivos, temor ou devoção cívica, o tempo andava nos eixos. Verão era verão, não era essa esculhambação que temos hoje.
E o que temos hoje são os sábados morgados por nuvens cinzentas, a chatice dos ventos que agosto esqueceu nas praias levantando nuvens de areia que doem nas pernas. E o pior de tudo é o atraso no lançamento da nova coleção de meninas que setembro costumava despejar aos nossos olhos. Até que peguem cor e jeito, lá se vai outubro, quem sabe até metade de novembro.
Esta má vontade de setembro não é nova. Lembro que há uns dez anos já registrava a presença nefasta de agosto nos seus dias. Tanto, que escrevi um poeminha circunstancial que talvez valha a pena transcrever:

Sombras de agosto

As sombras de agosto
em pleno setembro
resmungam blasfêmias.

O vento de agosto
em dez de setembro
engelha meu corpo.

As bruxas de agosto
desovam em setembro
as sogras, Getúlio.

A garra de agosto
cravada em setembro
sangra suas virgens.

As cinzas de agosto
semeiam em setembro
poemas soturnos.

O gosto de agosto
no mel de setembro
que travo trará?

Meu vulto de agosto
no teu de setembro
que sombra fará?

Espero que agosto não se ofenda, mas acho que ele já teve seu tempo. É preciso dar tempo ao que setembro nos promete: às mulheres, o prazer da mostra sob o pretexto do calor. Aos homens, a mesma desculpa do calor para vagabundear pelas praias, emprestando os olhos a esse jogo antigo como o mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que setembro começa mostrar a sua força. Embora tardiamente vem com a beleza das flores.
Beijos
Aru