As estatísticas não mentem. O IBGE afirma, em suas cabalísticas Tábuas Completas de Mortalidade, que a expectativa de vida dos brasileiros cresceu em três meses e 22 dias. Vejam bem que vantagem. Em 2009, eu estava jurado para morrer com 73,17 anos. Em 2010, meu prazo de validade passou para 73,48 anos.
Longa é a arte, breve é a vida, já dizia Hipócrates, citado por Jobim. Pelos números das Tábuas, minha vida ficou um pouquinho menos breve, o que poderia muito bem ser aproveitado para produzir um pouco mais de arte.
Mas o que eu poderia produzir nesses quase quatro meses de prorrogação? Vamos por eliminação. Escrever um romance seria impossível, pois com esse tempo eu não sairia da frase inicial, aquela que dá mais trabalho ao escritor. Melhor se contentar com um bom conto. Mas como um conto precisa de uma gaveta confortável para descansar e mostrar a que veio, acho que não sairia de lá antes de uns bons seis meses. Um poema, então. Tentemos um poema. Mas um poema, como eu mesmo já disse, “não é coisa que se tem todo dia”. Pode muito bem acabar o meu tempo adicional e não aparecer nada que mereça ser chamado de poema.
Então, como eu mesmo também já disse, “todo dia o que se tem é viver”. E aqui está a solução sobre o que fazer nesses 142 dias que me sobram. Viver, simplesmente. Ou melhor, deixar a vida me viver. Bestar, no melhor sentido que este verbo possa ter. Ficar como besta, pastando na relva, ruminando o tempo na companhia de outros indivíduos da minha espécie, mugindo ou berrando de vez em quando, pelo simples prazer de anunciar que ainda estou vivo.
Um comentário:
Perfeito!
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