27 junho 2011

Vista cansada





Às vezes me dá um certo cansaço de ver as coisas. Principalmente quando elas se repetem, sem me causar nenhum espanto. E neste mundo uniformizado, é muito raro aparecer algo que realmente chame nossa atenção. Veja a moda, por exemplo. Monte um posto de observação em qualquer lugar de um shopping e espere passar as moças. Todas elas, ou quase todas, passarão de short bem curto, sapatos de salto agulha, uma camiseta estampada e os indefectíveis óculos escuros enormes, cobrindo metade do rosto. Os moços, então, nem me falem. É um exército fardado de bermudões no meio da canela, tênis de marca, camisas de malha com uma estampa esquisita e uma frase em inglês indecifrável. Coroando tudo, um boné de aba longa que esconde as caras, acentuando a uniformidade. Claro que existem variações, mas são variações previsíveis, também ditadas pelos ditadores da moda.

Me cansa muito também ver a repetição dos fatos na televisão, no rádio e nos jornais. Violência, corrupção, desastres naturais ou artificiais. Celebridades escandalosas, motoqueiros suicidas, fugas de prisioneiros e os padres disputando venda de cd com forrozeiros de plástico.

A ciência chama de presbita a pessoa que não vê direito as coisas mais próximas. Mas não é por acaso que a palavra presbítero, com que os antigos chamavam as pessoas velhas, é usada também para designar os pastores de algumas religiões protestantes. Ser um presbítero é, ao mesmo tempo, ser experiente e capaz de tomar conta de um rebanho de almas. De certa forma, é uma pessoa que vê melhor, com sabedoria, as coisas distantes, difíceis de ser discernidas pelos mais jovens.

Gostaria muito que o cansaço de minha vista fosse devido apenas ao tempo em que gastei olhando o mundo. Mas o cansaço maior se deve ao trabalho permanente de procurar alguma coisa que me surpreenda em meio a tanta banalidade, tanta repetição. Alguma coisa que me encha os olhos, que faça descansar a minha vista cansada.

Um comentário:

Angela disse...

assino embaixo!
só dentro encontro algo que me intriga, surpreende e interessa. fecho os olhos, abro o espírito.