Foi num mesmo dia da semana passada. Em dois canais diferentes de televisão. Primeiro, passou um documentário sobre a ablação do clitóris, ainda praticada em 28 países africanos. Depois, foi uma reportagem sobre os maus-tratos sofridos pelas pacientes da Maternidade Leila Diniz, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
O documentário exibia cruamente um ritual de extirpação do clitóris de uma adolescente que aparece depois, evolvida num manto azul, falando do tamanho da dor que acabara de sentir.
A reportagem, depois de mostrar as cenas já batidas de enfermarias lotadas e corredores apinhados de macas, mostra uma mulher recém saída da sala de cirurgia, colocada numa cadeira desconfortável, que reclamava: “Sentada em cima dos pontos, dói. Dói pra caramba.”
Estima-se que cerca de 115 milhões de mulheres sofreram mutilações genitais em todo o mundo. Mas esta prática vem sendo combatida através de movimentos internacionais pelo direito ao controle do corpo e da sexualidade. E para que estes direitos sejam respeitados, é necessário o recurso às leis.
Não sabemos quantas mulheres têm negado o seu direito a um tratamento digno num dos momentos mais importantes de suas vidas, em que dão à luz um novo ser humano. Mas sabemos que há leis obrigando o Estado a cuidar da saúde dos seus cidadãos, principalmente dos pequenos cidadãos recém-nascidos e suas mães.
Talvez o que esteja faltando seja um movimento internacional que chame a atenção do mundo para a maldade que se comete não apenas com as mulheres recém-paridas neste País. Somos todos nós que somos postos a sentar em cima dos pontos dados às pressas nessa ferida vergonhosa em que se transformou a saúde pública no Brasil.
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