Este é apenas mais um caso de pessoas que morrem sozinhas sem que ninguém dê por sua falta. O fato é comum, principalmente em cidades da Europa. Durante a onda de calor que em 2003, só na França, matou mais de 13 mil pessoas, a grande maioria de idosos, mais de mil famílias não se apresentaram para recuperar o corpo de seus parentes. Foi preciso a intervenção do governo para que algumas centenas de familiares assumissem o enterro de seus mortos.
A morte solitária e anônima é um dos sintomas mais graves do comportamento individualista a que somos incentivados pela economia neoliberal. A luta fraticida pelos recursos escassos faz com que esqueçamos os nossos laços sociais. Amigos, parentes, vizinhos, conterrâneos, toda e qualquer categoria que antes nos animava à convivência afetuosa ou apenas cordial, são agora uma ameaça à nossa sobrevivência. Tornaram-se estrangeiros ao círculo mínimo do meu mínimo eu.
Daí que cada vez mais vamos envelhecer sozinhos. E quanto mais nos isolarmos em nosso individualismo, maior será nossa chance de sermos encontrados mortos em nossos cubículos, sem que ninguém dê por nossa falta.
Ilustração: Fábio Cavalcanti
Um comentário:
Adorei. Bela reflexão acerca do individualismo e do sistema social que nos aprisiona a todos, até que morramos solitários. Seus textos possuem uma lírica objetiva__existe isso? rs__e é um grande prazer a sua leitura.
Um abraço, Sílvia.
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