24 março 2010

Ponto para a barbárie

O shopping e a favela. Contraste e confronto

Três assaltantes invadiram uma casa no bairro de Manaíra, em João Pessoa, onde havia uma festa. Aproveitando-se de um descuido, as pessoas da casa desarmaram um dos homens e começaram a bater nos três. Um deles conseguiu fugir, outro foi entregue à polícia bastante ferido e o terceiro morreu de tanto apanhar. Uma cena de barbárie cada vez mais comum nas cidades brasileiras.

Há muito tempo sabemos que para a humanidade só existem duas opções: socialismo ou barbárie. Sabemos também que o socialismo é o nome político da solidariedade. A principal dificuldade em fazermos a opção pelo socialismo é que a solidariedade não é um atributo natural do homem. A partir dos laços familiares mais estreitos, o nosso instinto gregário vai se alargando em forma de círculo até um limite que varia segundo certas circunstâncias sociais. A fronteira pode estar na casa vizinha, no outro bairro, em outra cidade, outro estado ou país. O limite também pode estar na diferença de etnias, cor da pele, escolhas religiosas ou sexuais. Cada um de nós tem um limite para além do qual nossa solidariedade não avança. O limite mais resistente, porém, está entre as classes sociais.
O que aconteceu em Manaíra foi apenas mais uma manifestação dessa luta entre as classes que muita gente, não sei com quais fundamentos, acredita ter sido abolida. O bairro de Manaíra é, todo ele, um monumento à luta de classes. Basta ver o contraste entre a monumentalidade do Shopping e a degradação urbana do Bairro São José. Não é de espantar que as pessoas segregadas em seu gueto à beira do mangue descarreguem seu ódio naqueles que mais parecem com os representantes da classe antagônica. Estão apenas obtendo pela força os bens impossíveis de obter graças à omissão histórica do Estado.
Não é de espantar, também, que a classe média de Manaíra reaja à ação dos marginais oriundos do gueto que entrem em suas casas e ameacem suas vidas. Estão apenas defendendo suas integridades corporais e patrimoniais que cabe ao Estado proteger.
Só um estado forte e generoso pode garantir a igualdade de condições para que todos os cidadãos possam usufruir de uma vida digna. Quando o Estado falha neste papel primordial, perde-se toda a racionalidade que poderia levar a um comportamento solidário entre as classes. Cria-se o terreno fértil para o recrudescimento da barbárie, esta erva daninha que não precisa de nenhum cultivo para se alastrar.

Foto: Oriel Farias





4 comentários:

Angela disse...

Viva! Ronaldo, também seria preciso que artigos como o seu fossem divulgados, que idéias lúcidas e fraternas fossem passadas adiante.

O próprio termo bárbaro - já é oriundo do "ser diferente" a partir dos gregos.

Anônimo disse...

OI ! mais uma vez aqui, tentando tecer algo a altura desse cerebro ávido e brilhante chamado Ronaldo Monte.
Essa semana estou estudando um texto sobre direitos humanos e o professor quer que façamos comentarios sobre esse acontecimento de Manaíra que bom sorver dessa fonte.
A afirmação histórica dos direitos humanos:um processo contraditório.

Abraços!
Akátia

Juliêta Barbosa disse...

Lúcido!

Cla disse...

Concordo com o comentário acima. Excelente texto!Tenho medo que eventos como esse se repitam. =/