A marca do humano é o excesso. Se você discorda, olhe em sua volta. Essas pessoas todas que passam correndo, a pé, de carro, ou espremidas em ônibus desgovernados, correm para o nada, movidas por uma sensação inexplicável de pressa e de perda iminente.
Mas não precisa olhar para tão longe. Veja as coisas que lhe rodeiam no seu dia-a-dia. Esse monte de livros, essa pilha de CDs, esses papéis velhos entulhados nas estantes que você nunca irá reler. Seus sapatos surrados, essas meias velhas, aquelas camisas desbotadas, as calças fora de moda abarrotando o guarda-roupas, quando você vai usar de novo? No entanto essas coisas ficam ali, ocupando espaço e tempo, restos insepultos da sua vida que delas nunca mais se servirá.
Quer um outro exemplo do excesso? Veja uma família festejando a classificação no vestibular de um dos seus rebentos. Nada, nem a qualidade da faculdade, a seriedade do curso, a futura carreira profissional, nada mesmo justifica aquela euforia somente mantida às custas de muita cerveja. Outro exemplo? Chegue perto de um apaixonado. Ouça o que ele tem a dizer a respeito do objeto de sua paixão e depois vá conferir essas qualidades com o dito objeto. Mais ainda: assista este mesmo apaixonado quando se transformar num desiludido do amor. Ele vai morrer, ele vai matar, ele vai largar tudo pra ser monge no Nepal.
Agora, se quiser uma prova mais fidedigna do excesso humano, olhe um pouco para dentro de você. Conte as vezes por dia em que sua garganta aperta, sua respiração se encurta, seu coração se acelera. Procure os motivos para tudo isso e você verá que as mínimas coisas são capazes de nos tirar do sério. E aqueles pensamentos terríveis causados pelo mais mínimo atraso da pessoa amada? E aquela sensação de angústia que não conseguimos encontrar a causa?
Pois é. Nós somos seres excessivos. E toda essa forma ruidosa de ser serve apenas para nos mostrar o quanto somos mínimos em nosso egoísmo.
Ilustração: Multidão 2, Pedro Charters
3 comentários:
Interessante e verdadeiro para o povo ocidental e das cidades grandes, não acha?
Excelente! Mais um belo texto a nos fazer pensar, constatar coisas às vezes duras na sua aceitação. Um grande abraço, Sílvia Abrahão
Boa noite,ou melhor bom dia pois ja é quase dia ,
Ronaldo monte
o incrível é que te conheci no jornal contraponto onde faço muitas reflexões dos seus textos,bem como o jornal que considero muito inteligente pois tem pessoas assim como você para nos fazer acordar e simplesmente refletir para onde estamos caminhando...peço desculpas pois onde eu estava que não conheci teus escritos?? Respondo andava as cegas,bem hoje minha visão nao esta mais turva...leio sua coluna ja faz algum tempo hoje resolvi comentar pois essa semana voçê jogou um machado em meu mar congelado...
atenciosamente
Akátia
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