08 janeiro 2010

O velho e o antigo





Tenho sessenta e dois anos e guardo uma fotografia de quando tinha uns quatro anos de idade. Agora, pergunto: quem é velho, eu ou o menino da foto? Uma das respostas que me ocorrem é que a foto seria antiga, enquanto eu sou contemporâneo. Pelo menos contemporâneo de mim mesmo. Deste ângulo, velho seria o menino da foto, enquanto o cara que escreve estas linhas é um fenômeno atual.
De um certo ponto de vista, o menino da foto e o escriba são exatamente a mesma pessoa. Ou não? Vejamos. Será que as células do sessentão são exatamente as mesmas do garoto? As feições do velhote lembram minimamente a cara rechonchuda da velha fotografia? A memória do pré-ancião recorda as coisas vividas pelo menino? Pode ainda o atual candidato a proveta olhar o mundo com os mesmos olhos ingênuos da antiga criança? Pode o gasto coração sentir com o mesmo frescor as emoções que abalavam o coração nascente?
Enquanto escrevo, vai se firmando uma certeza: sou um ser de memória. E no âmbito da memória, tudo gira entre o velho e o antigo. Velho sou eu. Antigo é o menino. E de mãos dadas, o velho e o antigo vasculham os escombros da memória para com isto construir algo de verdadeiramente novo. Algo que estará além de mim e do menino.

6 comentários:

Alejandro Ramírez Giraldo disse...

Muito bello, Ronaldo. Seus escritos estão cheios da poesia.

Um abraço...

Angela disse...

sim, bastante poético!

Anônimo disse...

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Juliêta Barbosa disse...

Ronaldo,

Seu texto vem a calhar com o meu momento atual. As vésperas de entrar na casa dos sessenta, a minha emoção e a minha alegria não cabem na linguagem dos números. Ela está mais para o arrepio da pele e o brilho do olhar... E para isso, pouco importa a idade que se tem. A vida pulsa até o último suspiro, quando não permitimos a morte dos nossos sonhos...
E se no futuro, perguntarem se eu sou nova ou velha, direi: tenho a idade dos meus sonhos e esses não acabam nunca!

romério rômulo disse...

ronaldo:
te deixo um abraço.
romério

Juliêta Barbosa disse...

"Elas estão mais para o arrepio da pele e o brilho no olhar."