Há exatamente 65 anos, revelava-se aos olhos do mundo um dos retratos mais hediondos do mal. No dia 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho liberava o mais importante dos campos de extermínio alemães: Auschwitz Birkenau. Ali, a poucos quilômetros da Cracóvia, na Polônia, morreram mais de um milhão e duzentas mil pessoas. Muitas delas foram conduzidas para a câmara de gás imediatamente após a chegada ao campo.
Aproximadamente, seis milhões de homens, mulheres e crianças desapareceram da face da terra vítimas da loucura ideológica que contaminou uma das nações mais cultas de toda a história.
Não me interessa agora, todos esses anos depois, se eram judeus as vítimas e alemães os algozes. Os papéis históricos são permutáveis e as vítimas de ontem podem ser vistas, hoje, como algozes de outras vítimas. Outros massacres mais ou menos espetaculares aconteceram antes e depois de Auschwitz, mostrando que o mal não é privilégio de nenhum povo ou nação. Hiroshima ainda fere nossas retinas e a faixa de Gaza está aí, agora, fumegando.
O que me interessa hoje é compreender esta intemporal e onipresente insanidade destruidora e sua capacidade de contaminação. É uma doença, acreditem, é uma doença que leva um povo a ver em outro povo a encarnação do mal a ser destruído. É a mesma doença que leva uma torcida de futebol a avançar sem piedade contra seus adversários pelo simples fato de torcerem por um outro time qualquer. É o mesmo impulso que leva um motorista apressado a avançar sobre os pedestres na faixa, por conta da única diferença de andarem a pé.
É uma doença que nos leva a projetar no outro tudo aquilo de mal que rejeitamos em nós. Para tanto, é necessário que se fabrique esse outro para que seja destruído por nós, em nosso lugar. São muitos esses outros: judeus, muçulmanos, negros, asiáticos, mulheres, pobres, homossexuais, doentes mentais... Enfim, qualquer indivíduo, grupo ou etnia que possamos eleger como causa das nossas carências e fraquezas.
Um comentário:
Ronaldo,
Mais uma boa leitura para reflexão. Obrigada!
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